Notícias de Cabo Verde - 4
Meus amigos,
ontem depois de vos escrever fui tratar de me alimentar. Andava com vontade de experimentar o peixe-serra, um peixe muito popular por estas bandas, o dito cujo é assim uma espécie de atum só que a carne é branca e tem um serrote a fingir de penca. Lá descobri um lugarzito simpático, mais ou menos abrigadito dos ventos que sopram por aqui, mas que simultaneamente me permitia comer cá fora e com vista para o mar. Para meu azar ( já sei, já sei, passo a vida a lamuriar-me ) devido a ter-se metido o sábado e o domingo de Páscoa os pescadores não foram ao mar pelo que tive de me contentar com uma bica grelhada e sem história. Antes disso tinha sido apanhado por duas moçoilas locais a tirar fotografias no meio da rua. Conversa-puxa-conversa lá me convenceram a tirar-lhes uma foto e depois disso uma com cada uma delas. Se por acaso pensam que vão ver o cheiro sequer da fotinha minha com as duas atrevidotas desiludam-se que eu apaguei-as logo de seguida. Hoje de manhã lá fui dar uma visita obrigatória às belezas locais. Nem vos digo quanto custou, só vos digo que foi um preço perfeitamente exorbitante que me dá vertigens só de pensar nisso. Já vos disse e repito, que se desengane quem tiver a ingenuidade de pensar que as coisas aqui custam o preço da uva que faz chi-chi. Mais um exemplo que me tinha esquecido de mencionar, ontem ao constatar que não havia peixe-serra ainda pensei em derivar para umas gambas grelhadas que custavam 13 Euros a dose, perguntei quantas eram, uma meia dúzia disse-me a simpática empregada, um completo absurdo.
Eu compreendo que tudo quanto seja importado seja mais caro, tem uma certa lógica, agora alguém me é capaz de dar uma explicação cabal e satisfatória para a cerveja Strella que é nacional e servida em garrafas de 25 cl custe 1,50 Euros ou seja o mêsmo preço das importadas Sagres e Superbock que ainda por cima são comercializadas em garrafas de 33 cl cada uma?
Depois do passeio à volta da ilha que demorou com muito vagar umas 3 horas, resolvi-me a ir pela primeira vez à praia, ir à praia não sei porquê faz-me lembrar tatuagens. Quando eu era muito, muito jovem, lá para meados do século 20 ( ou será 19 nem sei bem, de qualquer maneira há muito tempo ) havia duas espécies de pessoas que usavam tatuagens, uma era os ex-presidiários e outra os nossos soldados regressados de combates nas ex-colónias. Quem não sente os olhos marejados de lágrimas ao ver aqueles biceps decorados com um carro de combate desenhado por um camarada de armas com jeitinho para tudo menos para desenhar carros de combate acompanhados daqueles ditos cheios de originalidade tipo: Angola por ti lutei, 1967-69. Ou então Companhia de caçadores nº 453 - Guiné 1965-67. Ou então a versão romântica com um coraçãozinho atravessado por uma seta toda tortinha a deitar umas gotas de sangue pungentes dizendo por baixo: Amo-te Ermengarda Sofia.
Mas isto ainda era a versão soft-core a versão modesta. Ao longo dos 17 anos e meio que vivi lá pelas Alemanhas fui-me habituando sempre contra-vontade a ver os alemães a decorarem o corpo com toda sorte de sinais cabalísticos, pelos braços, pelas pernas, pelo peito, pelas costas, enfim pelo corpo todo.
Tive a oportunidade de constatar o ano passado quando fui à praia que nós portugueses aderimos fácilmente a todas essas modernices, quanto mais parolas melhor, mas que felizmente, a frente tatuística embora começasse lentamente a invadir os corpinhos de lusos e lusas ainda se mantinha em limites dentro do aceitável.
Mas eis senão quando lá fui eu hoje à praia, e eles lá estavam, a caravana nórdico-italo-britânica mais os seus corpinhos modernamente tatuados. Oh, os inglêses como eu adoro aquela working class proleto-manhosa dos arredores de Manchester, Birmingham ou Leeds.
E pronto, embora não pedida lá tiveram que levar com a minha opinião sobre aquele simpático costume que certa camada social sobretudo do norte da Europa tem de decorar os corpinhos com tatuagens.
Quanto às fotinhas até agora levaram com poucas porque houve alguns problemas de natureza técnica que inviabilizaram o envio das mêsmas, amanhã tentarei resolver o problema e enviar-vos mais umas fotos.
Agora vou tratar de jantar e depois à noite vou-me encontrar com o moço que foi meu condutor hoje de manhã e que simpatizou tanto comigo que me convidou para me encontrar com ele quando estivesse despachado para irmos para aí para as noites. Se por acaso nos encontrámos e em caso afirmativo que tal foi a noite, disso vos darei notícias amanhã.
Até lá despeço-me com amizade
Henrique
ontem depois de vos escrever fui tratar de me alimentar. Andava com vontade de experimentar o peixe-serra, um peixe muito popular por estas bandas, o dito cujo é assim uma espécie de atum só que a carne é branca e tem um serrote a fingir de penca. Lá descobri um lugarzito simpático, mais ou menos abrigadito dos ventos que sopram por aqui, mas que simultaneamente me permitia comer cá fora e com vista para o mar. Para meu azar ( já sei, já sei, passo a vida a lamuriar-me ) devido a ter-se metido o sábado e o domingo de Páscoa os pescadores não foram ao mar pelo que tive de me contentar com uma bica grelhada e sem história. Antes disso tinha sido apanhado por duas moçoilas locais a tirar fotografias no meio da rua. Conversa-puxa-conversa lá me convenceram a tirar-lhes uma foto e depois disso uma com cada uma delas. Se por acaso pensam que vão ver o cheiro sequer da fotinha minha com as duas atrevidotas desiludam-se que eu apaguei-as logo de seguida. Hoje de manhã lá fui dar uma visita obrigatória às belezas locais. Nem vos digo quanto custou, só vos digo que foi um preço perfeitamente exorbitante que me dá vertigens só de pensar nisso. Já vos disse e repito, que se desengane quem tiver a ingenuidade de pensar que as coisas aqui custam o preço da uva que faz chi-chi. Mais um exemplo que me tinha esquecido de mencionar, ontem ao constatar que não havia peixe-serra ainda pensei em derivar para umas gambas grelhadas que custavam 13 Euros a dose, perguntei quantas eram, uma meia dúzia disse-me a simpática empregada, um completo absurdo.
Eu compreendo que tudo quanto seja importado seja mais caro, tem uma certa lógica, agora alguém me é capaz de dar uma explicação cabal e satisfatória para a cerveja Strella que é nacional e servida em garrafas de 25 cl custe 1,50 Euros ou seja o mêsmo preço das importadas Sagres e Superbock que ainda por cima são comercializadas em garrafas de 33 cl cada uma?
Depois do passeio à volta da ilha que demorou com muito vagar umas 3 horas, resolvi-me a ir pela primeira vez à praia, ir à praia não sei porquê faz-me lembrar tatuagens. Quando eu era muito, muito jovem, lá para meados do século 20 ( ou será 19 nem sei bem, de qualquer maneira há muito tempo ) havia duas espécies de pessoas que usavam tatuagens, uma era os ex-presidiários e outra os nossos soldados regressados de combates nas ex-colónias. Quem não sente os olhos marejados de lágrimas ao ver aqueles biceps decorados com um carro de combate desenhado por um camarada de armas com jeitinho para tudo menos para desenhar carros de combate acompanhados daqueles ditos cheios de originalidade tipo: Angola por ti lutei, 1967-69. Ou então Companhia de caçadores nº 453 - Guiné 1965-67. Ou então a versão romântica com um coraçãozinho atravessado por uma seta toda tortinha a deitar umas gotas de sangue pungentes dizendo por baixo: Amo-te Ermengarda Sofia.
Mas isto ainda era a versão soft-core a versão modesta. Ao longo dos 17 anos e meio que vivi lá pelas Alemanhas fui-me habituando sempre contra-vontade a ver os alemães a decorarem o corpo com toda sorte de sinais cabalísticos, pelos braços, pelas pernas, pelo peito, pelas costas, enfim pelo corpo todo.
Tive a oportunidade de constatar o ano passado quando fui à praia que nós portugueses aderimos fácilmente a todas essas modernices, quanto mais parolas melhor, mas que felizmente, a frente tatuística embora começasse lentamente a invadir os corpinhos de lusos e lusas ainda se mantinha em limites dentro do aceitável.
Mas eis senão quando lá fui eu hoje à praia, e eles lá estavam, a caravana nórdico-italo-britânica mais os seus corpinhos modernamente tatuados. Oh, os inglêses como eu adoro aquela working class proleto-manhosa dos arredores de Manchester, Birmingham ou Leeds.
E pronto, embora não pedida lá tiveram que levar com a minha opinião sobre aquele simpático costume que certa camada social sobretudo do norte da Europa tem de decorar os corpinhos com tatuagens.
Quanto às fotinhas até agora levaram com poucas porque houve alguns problemas de natureza técnica que inviabilizaram o envio das mêsmas, amanhã tentarei resolver o problema e enviar-vos mais umas fotos.
Agora vou tratar de jantar e depois à noite vou-me encontrar com o moço que foi meu condutor hoje de manhã e que simpatizou tanto comigo que me convidou para me encontrar com ele quando estivesse despachado para irmos para aí para as noites. Se por acaso nos encontrámos e em caso afirmativo que tal foi a noite, disso vos darei notícias amanhã.
Até lá despeço-me com amizade
Henrique

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