Notícias de Cabo Verde - 8
E pronto, estas férias estão a chegar ao fim, antes da já temida e ansiada conclusão final que eu faço sempre já depois de regressar a casa, queria ainda comunicar-lhes os resultados de algumas observações minhas e não só, estas opiniões resultam também do cruzamento dos meus pensamentos com a opinião de outros portugueses aqui residentes e de caboverdeanos.
Há cerca de uns 10 anos a esta parte um grupo relativamente grande de senegalêses e também em menor expressão, sierraleoneses, gambianos, nigerianos etc começou a "invadir" Cabo Verde gerando nos locais sentimentos confusos e contraditórios. De facto os caboverdeanos criaram uma identidade muito própria que se lhes não permite serem europeus por motivos geográficos e étnicos, também não os deixa serem africanos.
Vamos a ver, para qualquer europeu o nosso imaginário colectivo quando pensamos na África subsaariana vemos rios ou lagos infestados de crocodilos, guerreiros Massai de lanças na mão, elefantes, zebras, pôr-do-sóis sobre as savanas tipo "África Minha", batuques, cubatas, caçadores brancos à noite a jantarem embalados pelos cânticos dos carregadores com eventuais rugidos de feras em pano de fundo, cidades gigantescas e desordenadas com slums onde vivem milhares de pessoas sem saneamento básico, crianças famélicas de ventre inchado etc etc.
Ora bem, isso é a imagem que nós temos e que os caboverdeanos têm de África, já que nada disso existe em Cabo Verde. Durante a guerra colonial a Guiné tentou sem sucesso visivel que Cabo Verde se "juntasse" a África. O caboverdeano tem na maior parte das suas atitudes uma relação muito mais europeísta que africana, está habituado desde tempo quase imemoriais a conviver com o europeu, o português primeiro e agora com o português, o italiano, o inglês, alemão, escandinavo etc. Se perguntarmos a um caboverdeano ( e eu fi-lo várias vêzes ) onde ele gostaria de ir de férias se alguém lhe pagasse 15 dias fora daqui, nem um só dirá que quer ir a África, dirão Estados Unidos , Portugal, Londres, Paris.
Os caboverdeanos têm ao seu dispôr alguns canais de TV que passo a citar: a TV de Cabo Verde ( que não transmite durante 24 horas ) um canal espanhol ( que ninguém vê ) outro francês ( idem ) um brasileiro que é visto de vez em quando embora raramente, a RTP África que é bastante visionada, a SIC e a TVI, não há dona de casa caboverdeana que não esteja a par das aventuras e desventuras, amores e desamores dos personagens das telenovelas que essas emissoras transmitem, quanto aos homens adoram a Sport TV e sofrem com o seu Benfica, Porto ou Sporting com o mêsmo entusiasmo que qualquer cidadão português. Qualquer adolescente ou pós-adolescente conhece as personagens dos "Morangos com açucar" como um seu congénere nacional do mêsmo grupo etário. Quanto a canais africanos são uma cifra redonda ou seja zero, nada, rien, niente.
Os produtos que há à venda nas lojas e supermercados são na esmagadora maioria portugueses, com uma meia dúzia de artigos espanhóis, holandêses, brasileiros etc que todos juntos não representarão mais de 5 % do sortimento, mas que ainda assim são na maior parte europeus. De África nem um só.
Fruto do contacto secular e da intensa miscigenação o caboverdeano tem uma relação totalmente descontraída e descomplexada com o europeu, sem subserviência ou arrogância, não há como eu observei em Moçambique algumas pessoas hesitantes, timoratas, desconfiadas sem saberem o que dizer a um europeu ou como reagir, não, o caboverdeano reage com naturalidade de igual para igual.
Tudo isso nos leva à minha tese inicial que é afinal de contas que Cabo Verde é um país geográficamente ( e semi-étnicamente também ) africano mas de costas voltadas para África e voltado para a Europa.
É um país pobre, de gente simpática e afável, com um dos poucos govêrnos estáveis em toda a África.
Sôbre a minha opinião de Cabo Verde como destino turístico guardarei isso para amanhã ou depois na minha conclusão final.
Até lá e da ilha do Sal é tudo, espero como de costume ter contribuído para que o vosso ódio de estimação por estes comentários e opiniões (que ninguém me pediu mas que eu teimosamente vou continuando a dar!) tenha aumentado.
Um abraço
Henrique
Há cerca de uns 10 anos a esta parte um grupo relativamente grande de senegalêses e também em menor expressão, sierraleoneses, gambianos, nigerianos etc começou a "invadir" Cabo Verde gerando nos locais sentimentos confusos e contraditórios. De facto os caboverdeanos criaram uma identidade muito própria que se lhes não permite serem europeus por motivos geográficos e étnicos, também não os deixa serem africanos.
Vamos a ver, para qualquer europeu o nosso imaginário colectivo quando pensamos na África subsaariana vemos rios ou lagos infestados de crocodilos, guerreiros Massai de lanças na mão, elefantes, zebras, pôr-do-sóis sobre as savanas tipo "África Minha", batuques, cubatas, caçadores brancos à noite a jantarem embalados pelos cânticos dos carregadores com eventuais rugidos de feras em pano de fundo, cidades gigantescas e desordenadas com slums onde vivem milhares de pessoas sem saneamento básico, crianças famélicas de ventre inchado etc etc.
Ora bem, isso é a imagem que nós temos e que os caboverdeanos têm de África, já que nada disso existe em Cabo Verde. Durante a guerra colonial a Guiné tentou sem sucesso visivel que Cabo Verde se "juntasse" a África. O caboverdeano tem na maior parte das suas atitudes uma relação muito mais europeísta que africana, está habituado desde tempo quase imemoriais a conviver com o europeu, o português primeiro e agora com o português, o italiano, o inglês, alemão, escandinavo etc. Se perguntarmos a um caboverdeano ( e eu fi-lo várias vêzes ) onde ele gostaria de ir de férias se alguém lhe pagasse 15 dias fora daqui, nem um só dirá que quer ir a África, dirão Estados Unidos , Portugal, Londres, Paris.
Os caboverdeanos têm ao seu dispôr alguns canais de TV que passo a citar: a TV de Cabo Verde ( que não transmite durante 24 horas ) um canal espanhol ( que ninguém vê ) outro francês ( idem ) um brasileiro que é visto de vez em quando embora raramente, a RTP África que é bastante visionada, a SIC e a TVI, não há dona de casa caboverdeana que não esteja a par das aventuras e desventuras, amores e desamores dos personagens das telenovelas que essas emissoras transmitem, quanto aos homens adoram a Sport TV e sofrem com o seu Benfica, Porto ou Sporting com o mêsmo entusiasmo que qualquer cidadão português. Qualquer adolescente ou pós-adolescente conhece as personagens dos "Morangos com açucar" como um seu congénere nacional do mêsmo grupo etário. Quanto a canais africanos são uma cifra redonda ou seja zero, nada, rien, niente.
Os produtos que há à venda nas lojas e supermercados são na esmagadora maioria portugueses, com uma meia dúzia de artigos espanhóis, holandêses, brasileiros etc que todos juntos não representarão mais de 5 % do sortimento, mas que ainda assim são na maior parte europeus. De África nem um só.
Fruto do contacto secular e da intensa miscigenação o caboverdeano tem uma relação totalmente descontraída e descomplexada com o europeu, sem subserviência ou arrogância, não há como eu observei em Moçambique algumas pessoas hesitantes, timoratas, desconfiadas sem saberem o que dizer a um europeu ou como reagir, não, o caboverdeano reage com naturalidade de igual para igual.
Tudo isso nos leva à minha tese inicial que é afinal de contas que Cabo Verde é um país geográficamente ( e semi-étnicamente também ) africano mas de costas voltadas para África e voltado para a Europa.
É um país pobre, de gente simpática e afável, com um dos poucos govêrnos estáveis em toda a África.
Sôbre a minha opinião de Cabo Verde como destino turístico guardarei isso para amanhã ou depois na minha conclusão final.
Até lá e da ilha do Sal é tudo, espero como de costume ter contribuído para que o vosso ódio de estimação por estes comentários e opiniões (que ninguém me pediu mas que eu teimosamente vou continuando a dar!) tenha aumentado.
Um abraço
Henrique

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