Saturday, December 02, 2006

Histórias do reino do Siao - 7

Olá meus amigos,

tinha preparado um texto sofrível que até escrevi no avião, mas mandei tudo pela borda fora.
Quando eu disser aonde estou, as reacções vão ser o mais díspares possível deste e do outro lado do oceano Atlântico, os portugueses vão dizer que foi uma ideia engraçada e que também gostavam de vir ( pelo menos a maior parte penso eu! ) e os brasileiros vão perguntar: o gajo está aonde?
Bom, eu estou em Macau. Falando muito francamente estava à espera de dizer isto com um grande hurraaaaa de satisfação mas não posso. Cheguei aqui há umas 7 horas e até agora não vi nada que mínimamente me agradasse. Explicando rápidamente aos brasileiros, Macau fica na China muito perto de Hong Kong, se procurarem no mapa, procurem Hong Kong e lá perto fica Macau. A razão da minha vinda aqui foi puramente sentimental. Macau não foi uma colónia mas um território sobre admnistração portuguesa até 1999. Estava eu na minha inocência, e a avaliar pelos comentários e reportagens que tinha lido, convencido que ia encontrar alguns traços da presença portuguesa e de facto quando se chega pensamos nós que encontramos, mas é uma ilusão.
Tudo está escrito em 3 linguas, português, inglês e um dialecto chinês ( cantonês ) ou no minimo como é o caso de todas as ruas em português e cantonês.
Mas é só fachada, nas pastelarias vendem-se umas patetices chinesas, nem uma única pessoa fala nem que seja uns rudimentos de português, nem um bom dia ou boa tarde, nada. Fui jantar a um restaurante que tinha uma ementa em inglês e onde alguns pratos eles diziam que eram em "portuguese style".
Temendo o pior acabei por pedir "Dry cod fish with scrambled eggs" ou seja uma coisa que em português se chama "bacalhau à Brás", os meus receios começaram a tornar-se cada vez mais fundamentados quando a empregada me perguntou para meu horror
se eu queria arroz a acompanhar, ia-me dando um xelique e disse-lhe vigorosamente que não. Ao meu lado um pai acompanhado do filho comiam o mesmo, o pai com a sua indispensável tijela de arroz a acompanhar o bacalhau, o filho comia esparguete, a certa altura o pai põe duas colheres do bacalhau em cima do esparguete, eu só vos digo, sofri imenso.
Finalmente veio o meu bacalhau, aqui para nós embora ele não tenha culpa e eu seja contra a violência, acho que o cozinheiro devia ser enforcado primeiro, depois empalado e depois esquartejado em quatro e os pedaços servidos de pequeno almoço aos crocodilos.
Para acompanhar a refeição, fui ao cardápio ver se eles ao menos tinham uma Sagres, nem pensar, tinham cerveja chinêsa, dinamarquêsa, holandêsa e até para cúmulo dos cúmulos espanhola. Tinham algumas marcas de vinho português, umas 3 ou 4, não pensem que era uma garrafeira bem sortida, mas claro que não ia beber uma garrafa de vinho sózinho, não porque não fôsse capaz, mas por ser caro e a refeição não valer a pena. Valha-nos ao menos a consolação de não ter sido muito cara, 4 euros por aquela hipótese de "bacalhau à Brás" , mas não merecia nem mais um cêntimo.
Depois de jantar e enquanto andava à procura de um café internet, perguntei a vários jovens naquela idade em que todos os jovens sabem onde fica um e só o quinto ou sexto é que conseguiu falar comigo e até sabia onde era um. Se calhar você pensam que eu estava nalgum subúrbio, não, garanto-vos que estava no centro da cidade, no Largo do Senado.
As relações problemáticas que eu tenho com o passado colonial português desde a minha juventude,e que até agora não diminuíram de intensidade, vieram agravar-se ainda mais com esta vinda a Macau.
Vou tentar (embora saiba de antemão que vai ser uma tentativa frustrada ) abstrair-me de que é Macau e pensar que estou de visita a uma cidade chinêsa qualquer.
Enfim talvez a minha têlha melhore até amanhã.
Já me esquecia de dizer, o meu quarto que custa mais caro, pouco mas é, que o de Banguecoque, tem um mobiliário do tempo em que o Luis de Camões andava por cá e uma casa de banho no andar de baixo, coisa que eu detesto e até agora nem na India nem no Sri Lanca me tinha resolvido a ficar, mas o dinheirito não nasce das árvores.
Podem não acreditar e digo isto com mágoa e tristeza, vou tentar aproveitar estes 3 dias o melhor possível, mas se me apanho outra vez na Tailândia até julgo que é mentira.
Amanhã digo mais qualquer coisa.

Henrique.

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