Tuesday, October 10, 2006

Telegramas indianos - 1 ( os nrs. 2 e 3 faltam devido a um problemazito que me é alheio )

Rua no Pahar Ganj, um bazar em Dehli
Vaca pastando lixo no Pahar Ganj

Segunda- feira, 15 de março de 2004

Meus amigos (portugueses, brasileiros, alemães )

Cheguei aqui há umas horas já dormi e dei uma passeata pela cidade.
Mas o Henrique não seria o Henrique se não começasse a protestar.
Há muitos anos, quando eu vivia na felizmente defunta RDA tive o duvidoso prazer de voar umas 5 ou 6 vezes com a companhia de aviação romena, Tarom de seu nome que tinha aliás como as outras companhias do leste europeu uma péssima fama amplamente justificada. Dentro dos aviões nao chovia mas gotejava e das paredes escorria uma aguadilha que deixava uma marca amarela e ferruginosa.
Quanto à comida, bom, todos sabemos que a comida a bordo dos aviões não é uma aventura gastronómica, mas aquilo ultrapassava todos os limites, uma comidinha mal confeccionada e umas porções que não davam para encher um buraco de um dente se eu tivesse um ( buraco, não dente evidentemente ), mas o cúmulo dos cúmulos eram as hospedeiras de bordo (aeromoças), senhoras que deviam ter sido jovens entre os finais do século XIX ( 19 ) e princípios do século XX ( 20 ) deviam agora ter idades que oscilavam entre os 80 e os 120 anos. Para tentar disfarçar isto as senhoras usavam uma camada de maquilhagem e pinturas que eu calculo assim por alto em mais ou menos 3 quilos o que lhes dava o ar de um cruzamento bem conseguido entre um indio apache ou comanche em pé de guerra com os caras pálidas e uma personagem da galeria de horrores do museu das figuras de cêra da Madame Toussaud em Londres.
A esta hora deve estar toda a gente a pensar que eu apanhei muito sol indiano na moleirinha e não digo coisa com coisa e que além disso não sei escrever porque não ponho acentos nas palavras, não, não é isso, o que se passa é que este teclado não tem acentos graves nem agudos. Além disso esta historia toda vem a propósito do(s) meu(s) vôo(s) de ontem com a Aeroflot. Estava eu Leonor posta em sossego, pensando na minha ingenuidade que 14 anos depois do fim do "socialismo" e apesar da má fama que a Aeroflot continua a gozar, que fosse só má vontade, mas não, no primeiro vôo de Hamburgo até Moscovo a hospedeira era ligeiramente mais jovem que as outras da TAROM e os dois comissários de bordo ( aeromoços ) tinham um ar de agentes do KGB reciclados e imensas dificuldades em accionar os músculos faciais capazes de produzir um riso ou sequer um sorriso, quanto á comida, o que a Aeroflot chama um almoço foi uma salada constituída por um quarto de tomate, uma folha de alface e um outro vegetal qualquer de natureza indefinível ( se calhar era russo ). No segundo voo de Moscovo até Delhi as hospedeiras eram considerávelmente mais jovens, mas quer eles quer elas tinham manifestas dificuldades com a lingua inglêsa, mas as 10 palavras que conheciam desse idioma diziam-nas fluentemente. O opíparo menu constou de um pedacinho de peixe supostamente frito mas que estava ressequidíssimo e 4 batatas do tamanho da unha de um dedo polegar ( juro que estou a falar a sério), toda a refeição ocupava metade daquelas travessinhas já de si minúsculas. Como se as desgraças não fossem já suficientes a instalação sonora tinha dado o triste pio pelo que foi óptimo ver "O pirata das Caraíbas" com o Johnny Depp sem som. Nesta altura do campeonato vocês devem estar a perguntar: mas porque diabo é que ele não mandou o filme ás urtigas e leu qualquer coisa? Então ele foi para férias sem sequer levar um livro ou um guia turístico? As vossas perguntas sao justificadíssimas, o que se passa é que durante a projecção do filme o avião estava ás escuras, pelo que das 6 horas que durou o vôo 4 foram feitas ás escuras. Pronto, já aprendi qualquer coisa, juntamente com as companhias de aviação árabes com quem me recuso a viajar por motivos que não vêm agora para o caso tambem puz a Aeroflot na minha lista negra pessoal.
Mas quando será que ele fala na India, hão-de estar a perguntar os poucos que conseguiram resistir e ainda me estão a ler. Bom, eu tinha feito uma pesquisa aturada na net e não era primeira vez que cá vinha, de maneira que até agora estou a manobrar as situações insólitas e que confesso me chocaram um bom bocado há 1 ano e meio, com muita soberania.
Logo depois do pequeno almôco fui á estação e comprei o bilhete de comboio ( trem) para Varanasi no dia 18, isso deu-me alguma satisfação porque me tinham dito que os comboios estavam cheios e que era preciso reservar com semanas de antecedência etc. Depois telefonei á Sujata uma moça indiana que eu conheci em Goa há ano e meio, queria ir jantar com ela, mas ela não pode, vamo-nos encontrar cerca das 16:30 por uma hora ou duas e pronto. Para que os mais maliciosos não fiquem a pensar coisas, não se trata de mais nada do que um encontro, eu mal conheço a moca, conhecemo-nos com já disse há ano e meio, ela estava com mais uma amiga e dois amigos, todos eram muito ocidentalizados na maneira de ser e de vestir, falavam óptimo inglês e fizemos um jantar a 5, a história é esta.
O calor dá-me um bocado que fazer, quem como eu nos ultimos dois meses não suportou mais de 5 graus positivos e se vê agora confrontado com temperaturas de bem mais de 30, sofre um bocadinho, mas enfim não é problema de maior. Acho que por agora não vou dar cabo da paciência dos dois ou três que penosamente ainda estão a ler esta treta toda e vou despedir-me.

Um abraço para todos do

Henrique

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