Tuesday, October 10, 2006

Telegramas indianos - 4

Vacas no Pahar Ganj
Jantar Mantar, um observatório astronómico do séc. XVII

Terça-feira, 16 de março de 2004 13:51

Meus amigos ( portugas, brasucas, e para além disso germânicos e moçambicanos de quem me tinha esquecido da outra vez, facto de que peço aqui as minhas humildes desculpas )

Para comecar uma tirada pró machistóide. As meninas deste mundo, mesmo as indianas são todas iguais, a Sujata que tinha combinado encontrar-se comigo entre as 16:30 e as 17:00 acabou por aparecer com aquelas desculpas do costume de que só as mulheres são capazes ás 17:20, o Henrique como sempre pontualíssimo a secar. Depois fomos a um observatório ao ar livre que tinha sido mandado construir por um marajá qualquer no século XVII ( 17 ) que se interessava muito por astronomia, obra de facto notável, fiz umas fotos do tal observatório que dá pelo nome bizarro de Jantar Mantar. Cerca das oito da noite e depois de termos petiscado qualquer coisa muito rápidamente a Sujata foi para casa, ou antes foi tratar de uma coisa qualquer, não percebi bem e como não me interessava particularmente não perguntei.
Depois da visita estivemos um bocado a conversar na relva e a falar um bocado da situação dela e da situação da mulher indiana em geral. A irmã que é 5 anos mais nova que ela casou em Fevereiro ( num casamento arranjado pelos pais como ainda continua a ser uso aqui na India) o comportamento dela que antes já era "escandaloso" ( deve ter para aí uns 25 anos e ainda está solteira), ainda se tornou agora mais evidente. Claro que na cerimónia do casamento não houve cão nem gato que muito discretamente em voz alta e para todos ouvirem não tivesse perguntado: então e tu quando é que casas?
Ela diz que só consegue aguentar essa pressão cultural e familiar porque vive numa grande cidade onde tudo é um pouco mais liberal.
A rua do meu hotel fica no meio de um bazar, e esqueçam tudo o que ouviram dizer até agora sobre bazares, isto é um bazar indiano, ruas estreitinhas, com lojas de tudo quanto é possível e impossível, indianos, montes de indianos, carros, motas, triciclos puxados por um tipo de bicicleta a dar violentamente ao pedal, tuc-tucs ou seja triciclos a motor, pelo meio os carros apitam, as motas apitam, os triciclos apitam, os condutores das bicicletas gritam, os vendedores gritam as suas mercadorias a pleno pulmões e as vacas que de vez em quando aparecem e contribuem imenso para melhorar a situação do tráfego nestas ruas estreitas olham com olhar bovino.
O Henrique no meio disto tudo vai-se livrando dos tipos mais incríveis que lhe querem vender de tudo, desde jogos de xadrez pequeninos ( hoje foram alguns 50 a tentar impingir-me essa mercadoria ) , flautas, tantans, viagens de carro aqui e acoli, coisas para fumar ( acho que eles não estavam a pensar em tabaco ) ou uma ida à loja do vizinho que vende muito barato e é mesmo ali ao lado por coincidência. Aqui é que o Henrique está bem, indiscutívelmente nasci para isto, trabalho para mim é um mal necessário, um espaço que eu de alguma maneira tenho de preencher entre viagens, isto é a minha fonte de juventude, acho até que estou com alguns cabelos brancos a menos.
O caos está servido, entrem e sirvam-se por favor, chega para todos.

Abraços

Henrique

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