Telegramas indianos - 8
No combóio entre Delhi e Varanasi
Sexta-feira, 19 de março de 2004
De Delhi para Varanasi
No comboio descendente vinha tudo à gargalhada
uns por verem rir os outros, e os outros sem ser por nada...
Sempre que viajo de combóio, ( trem ) o que felizmente acontece poucas vezes conhecida que é a minha aversão aos transportes públicos, lembro-me desta poesia do Fernando Pessoa.
Hoje ainda me lembrei mais. Quem viaja na penúltima classe ( como eu ) de um combóio indiano ( os combóios indianos têm oito classes ) não tem muito para rir.
O meu compartimento em princípio é de seis pessoas, até agora já contei 11, os lugares que durante o dia servem para as pessoas se sentarem, funcionam à noite de cama, as costas desses assentos transformam-se em mais duas camas à noite e ainda há mais um andar superior (o meu ).
Os meus companheiros de viagem até agora são um casal arqueológico e uma familia constítuida por um avô com uma barba à marinheiro toda completa mas sem bigode, uma mãe muito jovem de uma menina de 7 anos e de um menino de 4, além disso um irmão e uma irmã dela e um irmãozito pequeno do marido que não viaja.
Nenhum deles a não ser a mãe, fala patavina de inglês, mas ela sabe e tem um temperamento vivo. Com a filhota divirto-me bastante, faço-lhe caretas, cócegas etc e isso dá-me alguns pontos positivos.
Como é costume nestes países as pessoas não viajam simplesmente, levam montes de bagagens, sacos de plástico etc, o espaço disponível que inicialmente era pouco fica reduzido ao mínimo. A mãe é uma pessoa alegre, muito viva com um sorriso simpático e uma voz aguda capaz de fazer quebrar vidros duplos, enfim não se pode ter tudo. As três mulheres trazem vestido um traje indiano típico, não o sari, mas o salwar kalmez, que é constutuido por umas calças e uma túnica, muito mais prático para viajar imagino eu, já que tapa tudo quanto há a tapar e permitindo grande mobilidade.
A mãe tem um desses trajes em azul claro, a irmã em verde claro e a velhota em laranja/alperce. Tudo por junto dá um aspecto exótico, colorido e folclórico.
Quando o comboio chegou à gare e apesar de faltarem cerca de 40 minutos para a partida, milhares de indianos tomaram o comboio de assalto como se o mundo fosse acabar amanhã, falando cacarejando inimpterruptamente, presumo que em Hindi.
Ao fim de uma certa agitação e nervosismo e com o partir do comboio a coisa acalmou um bocado e tomou dimensões mais ou menos "normais". Oláááááááá, estamos na India, o que é que é normal neste país?
A partir das 6 da manhã com o nascer do dia toda a população combóistica pôs-se em movimento, ou para dar satisfação a necessidades fisiológicas ou para lavar os dentes etc. De 3 em 3 minutos passa um vendedor com voz monocórdica, são vários mas a voz é sempre a mesma: tchai-tchai, tchai-tchai, a versão indiana do chá que eles transportam em grandes termos-marmitas e que consiste em água com leite e açucar a ferver e no qual o cliente mergulha o saquinho de cha própriamente dito.
Vamos passando por aldeolas com casas(???) construídas em barro, as mulheres trabalham a m..... das vacas talvez misturando com água e formam uma espécie de pizza que depois de seca é empilhada em pirâmides que chegam a medir 3 metros de altura. Para que semelhante coisa possa servir é um mistério que ficará momentâneamente por resolver já que não há aqui ninguém com vocabulário suficiente para me explicar.
Os meus companheiros de viagem, óbviamente muito pobres compartilham a comida que trazem em sacos e sacolas, mesmo comigo.
Uma coisa que me diverte imenso é observar os homens das aldeias por onde vamos passando, como há falta de casas de banho, acocoram-se mêsmo quando o comboio vai a passar e impassíveis e serenos baixam as calças e libertam-se do conteúdo excessivo que trazem no intestino. Os indianos tem aliás uma relacao muito, muito liberal com a libertação dos seus resíduos sólidos e líquidos, não há aquela ideia de privacidade que nós temos, é onde calha e onde dá mais jeito.
Quando eu saí em Varanasi, houve grandes despedidas e apertos de mão colectivos.
E a história acaba aqui de momento
Até mais logo ou até amanhã, um abraço do
Henrique
Sexta-feira, 19 de março de 2004
De Delhi para Varanasi
No comboio descendente vinha tudo à gargalhada
uns por verem rir os outros, e os outros sem ser por nada...
Sempre que viajo de combóio, ( trem ) o que felizmente acontece poucas vezes conhecida que é a minha aversão aos transportes públicos, lembro-me desta poesia do Fernando Pessoa.
Hoje ainda me lembrei mais. Quem viaja na penúltima classe ( como eu ) de um combóio indiano ( os combóios indianos têm oito classes ) não tem muito para rir.
O meu compartimento em princípio é de seis pessoas, até agora já contei 11, os lugares que durante o dia servem para as pessoas se sentarem, funcionam à noite de cama, as costas desses assentos transformam-se em mais duas camas à noite e ainda há mais um andar superior (o meu ).
Os meus companheiros de viagem até agora são um casal arqueológico e uma familia constítuida por um avô com uma barba à marinheiro toda completa mas sem bigode, uma mãe muito jovem de uma menina de 7 anos e de um menino de 4, além disso um irmão e uma irmã dela e um irmãozito pequeno do marido que não viaja.
Nenhum deles a não ser a mãe, fala patavina de inglês, mas ela sabe e tem um temperamento vivo. Com a filhota divirto-me bastante, faço-lhe caretas, cócegas etc e isso dá-me alguns pontos positivos.
Como é costume nestes países as pessoas não viajam simplesmente, levam montes de bagagens, sacos de plástico etc, o espaço disponível que inicialmente era pouco fica reduzido ao mínimo. A mãe é uma pessoa alegre, muito viva com um sorriso simpático e uma voz aguda capaz de fazer quebrar vidros duplos, enfim não se pode ter tudo. As três mulheres trazem vestido um traje indiano típico, não o sari, mas o salwar kalmez, que é constutuido por umas calças e uma túnica, muito mais prático para viajar imagino eu, já que tapa tudo quanto há a tapar e permitindo grande mobilidade.
A mãe tem um desses trajes em azul claro, a irmã em verde claro e a velhota em laranja/alperce. Tudo por junto dá um aspecto exótico, colorido e folclórico.
Quando o comboio chegou à gare e apesar de faltarem cerca de 40 minutos para a partida, milhares de indianos tomaram o comboio de assalto como se o mundo fosse acabar amanhã, falando cacarejando inimpterruptamente, presumo que em Hindi.
Ao fim de uma certa agitação e nervosismo e com o partir do comboio a coisa acalmou um bocado e tomou dimensões mais ou menos "normais". Oláááááááá, estamos na India, o que é que é normal neste país?
A partir das 6 da manhã com o nascer do dia toda a população combóistica pôs-se em movimento, ou para dar satisfação a necessidades fisiológicas ou para lavar os dentes etc. De 3 em 3 minutos passa um vendedor com voz monocórdica, são vários mas a voz é sempre a mesma: tchai-tchai, tchai-tchai, a versão indiana do chá que eles transportam em grandes termos-marmitas e que consiste em água com leite e açucar a ferver e no qual o cliente mergulha o saquinho de cha própriamente dito.
Vamos passando por aldeolas com casas(???) construídas em barro, as mulheres trabalham a m..... das vacas talvez misturando com água e formam uma espécie de pizza que depois de seca é empilhada em pirâmides que chegam a medir 3 metros de altura. Para que semelhante coisa possa servir é um mistério que ficará momentâneamente por resolver já que não há aqui ninguém com vocabulário suficiente para me explicar.
Os meus companheiros de viagem, óbviamente muito pobres compartilham a comida que trazem em sacos e sacolas, mesmo comigo.
Uma coisa que me diverte imenso é observar os homens das aldeias por onde vamos passando, como há falta de casas de banho, acocoram-se mêsmo quando o comboio vai a passar e impassíveis e serenos baixam as calças e libertam-se do conteúdo excessivo que trazem no intestino. Os indianos tem aliás uma relacao muito, muito liberal com a libertação dos seus resíduos sólidos e líquidos, não há aquela ideia de privacidade que nós temos, é onde calha e onde dá mais jeito.
Quando eu saí em Varanasi, houve grandes despedidas e apertos de mão colectivos.
E a história acaba aqui de momento
Até mais logo ou até amanhã, um abraço do
Henrique


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