Tuesday, October 17, 2006

Algumas rádios de que eu gosto

Wednesday, October 11, 2006

Agradecimentos

Este blog teria sido impossível sem a ajuda do Jorge Martins, ex-colega da faculdade (ele acabou o curso e está agora a acabar o doutoramento, eu fiquei pelo caminho ) e de outras "guerras" que nao vêm agora ao caso.
Tínhamo-nos perdido de vista há cerca de 20 anos mais ou menos, por intermédio de um amigo comum reencontrámo-nos virtualmente há uns dias atrás.
Instado a que fizesse um blog eu recusei, sabendo da minha insapiência para me meter em semelhantes assados. Mas ele nao desistiu e teve a gentileza de, sem me avisar, me fazer um e dar-mo já todo servidinho e pronto.
Para além disso também me ajudou nos primeiros passos, como colocar uma nova mensagem etc, aturando-me com imensa paciência num telefonema de longos minutos a fio.
Para ti Jorge, os meus agradecimentos

Algumas fotos do Brasil - De 27 de Outubro a 12 de Novembro de 2005


Vendedora de acarajé - Savador da Bahia
Praia do Farol da Barra - Salvador da Bahia

O mais que famoso Pao de Acucar
Eu no Pao de Acucar com Copacabana ao fundo


Côco gelado, a minha bebida favorita no Brasil

Catedral em Brasília

Tuesday, October 10, 2006

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL -1

Meus amigos (as),

daqui a algumas horas vou voar para o Brasil, possívelmente alguns dos meus leitores mais atentos já tinham pensado nisso ao ler o cabeçalho deste mail.
Devido ao enorme sucesso que foram os meus "telegramas indianos", ( sim, estou a exagerar um bocadinho, eu sei! ) eu vou insistir e mandar com a maior regularidade possível relato das minhas aventuras lá pelo Brasil.
Fui acusado certamente com razão, ( olá Isabel, olá Clara ) de ter dado alguns erros. Ora bem, em minha defesa e à laia de explicação tenho a dizer algumas coisas sobre isso.
1) Eu confesso ter relações por vezes conflituosas com algumas partes constituintes da gramática portuguesa como a morfologia, a fonética ou a sintaxe, oooooops, agora reparo, essas são as TRÊS partes constituintes da gramática portuguesa, pronto então está tudo explicado.
2) É um defeito meu ( mais um a juntar aos muitos que eu tenho ) mas quase nunca releio o que acabei de escrever, mesmo quando escrevia cartas à mão ( lembram-se na pré-história ? ) nunca o fazia, como tal de vez em quando acontecem alguns pontapés na supramencionada gramática que seriam evitáveis com uma segunda leitura.
3) Para acabar e como se as desgraças não fossem já muitas, a maior parte daqueles mails foram escritos não em casa confortávelmente sentado ao PC ou num hipermoderno café internet com todas as comodidades, mas em sítios que nem vos passa pela cabeça, pequenos, abafados, sujos, barulhentos etc, pelo que a minha vontade era escrever os mails e pôr-me o mais rápidamente possível a andar dali para fora em detrimento da correcção gramatical e ortográfica dos mesmos.
Quanto à minha estadia no Brasil irá durar exactamente 15 dias. Eu bem que gostaria de ficar 3 ou até 4 semanas mas infelizmente aquilo com que se compram os melões anda pela hora da morte e não abunda. Espero que os que nesta altura ainda me estão a ler ( já não devem ser muitos ) e não têm como lingua materna o português me tenham entendido. Por isso resolvi o dilema que era ir este ano só por duas semanas ou esperar mais um ano, indo mesmo este ano.
Vou voar inicialmente para S. Paulo ( onde ficarei em casa de amigos, lá mais para a frente falarei disso ), seguidamente vou a Brasilia ( idem ,idem ) depois para Salvador da Bahia e finalizo a viagem no Rio de Janeiro.
Muita gente há-de estar neste momento a criticar-me. Entao eu vou ao Brasil, um país com uma natureza tão fenomenal, luxuriante, o maior pantano do mundo, possívelmente as quedas de água mais bonitas do mundo, a maior floresta por desvirginar do mundo, fantásticas ilhas e ilhotas, praias fenomenais etc e vou passar o tempo todo encafuado em quatro grandes cidades? Sim, é verdade, as críticas são merecidas e razoáveis, mas não será certamente a última vez que eu vou ao Brasil ( haja dinheiro e saúde ) e terei certamente oportunidade de ver algumas maravilhas da natureza noutra visita.
Antes de terminar queria dizer ainda duas coisas:
1) Prometo que os outros mails não vão ser tão longos como este ( talvez, mas não acreditem muito nas minhas promessas)
2) Tal como fiz na minha viagem à India, os meus leitores interessadíssimos podem fazer-me toda a sorte de perguntas, sugestões, críticas etc ( via mail, claro ) se eu achar que são de interesse para o colectivo responderei em mail próximo, se achar que é uma questão muito pontual que só a essa pessoa interessa, responderei individualmente.
Esperando nao ter dado cabo da vossa paciência logo no primeiro mail, despeço-me atento, venerador e obrigado, pedindo antecipadamente desculpa por qualquer coisinha

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 2

Péssuau chéguei,

bom, eu tenho de começar por algum lado, por isso já agora vou começar pelo início ou seja pelo vôo. Talvez que um ou outro ainda esteja lembrado que eu o ano passado tinha dito da Aeroflot pior do que o Maomé disse da carne de pôrco. Pois bem, a TAM é um óptimo cartão de visita para quem vem ao Brasil. Aviões novos e bem cuidados onde a electrónica a bordo funciona, pessoal muito atencioso e prestável, uma mini-televisão para cada passageiro, com 4 ou 5 filmes para escolher e 11 canais de música, enfim, uma coisa em condições. Devo dizer que isso ajuda muito a passar as 11h:30m que dura o vôo de Paris até S. Paulo. Chegado ao aeropôrto as formalidades alfandegárias resolveram-se de uma maneira rápida e despachada, assim como o recolher das malas. À saída estavam a esperar-me tal como combinado um casal meu amigo, o Nivaldo e a Janete. Neste momento eu sei que vocês estão cheios de curiosidade e a roer as unhas até ao sabugo para saberem quem são o Nivaldo e a Janete, como é que eu os conheci etc etc.
Normalmente eu não me faço muito rogado para contar essas histórias mas......
atendendo ao facto de que a noite passada dormi quase nada e de agora já ser quase meia-noite aqui, eu vou deixar-vos por hoje quase na mais completa ignorância. Vou só acrescentar que são excelentes pessoas que me trataram muitíssimo bem sendo um magnífico exemplo da hospitalidade brasileira. Mas não pensem que perdem pela demora, se não for hoje é amanhã, mais tarde ou mais cedo têm que levar em cima com a história, mas como ela é bastante longa deixarei para outra oportunidade.
Viemos para casa no meio do famosíssimo trânsito caótico de S. Paulo que apesar de tudo não estava tão mau quanto o Nivaldo esperava. Chegados a casa o Nivaldo teve que resolver uns pequenos problemas no emprego dele e eu fui com os dois filhos do casal, o Gregório e o Guilherme, (o grande "culpado" desta amizade ) dar uma volta pelo condomínio onde eles vivem e depois sentámo-nos um pouco a falar da vida, um pouco disto e um pouco daquilo ( montes de elucidativo não foi? ) enquanto a Janete preparava uma lasagna que não era simplesmente comida, mas um poema alimentar. Se o Luiz Vaz ( para os intímos, de Camões para os outros) fosse ainda vivo faria dedicados àquela lasagna não direi uns novos Lusíadas mas pelo menos uns dois ou três sonetos.
Sobre a quantidade que eu comi, cerremos sobre ela o manto da discrição.
Depois do almoço que já acabou bastante tarde a chuva deu-nos um bocado a volta aos planos e tivemos de optar por um sítio debaixo de têlha pelo que fomos primeiro a um centro comercial laurear a pevide e comer um gelado e depois a uma semi-improvisada festa de amigos, colegas e conhecidos do Nivaldo. Como ainda estávamos todos, como direi sem ser muito boçal? Bom, tenho mesmo de dizer, completamente empazinados do almoço bebemos só alguns copitos de cerveja e ouvimos uma banda amadora como milhões que deve haver por este país fora, tocar uns sambas acompanhado dos instrumentos de batuque habituais. Após isso viemos para casa conversar um pouco, descansar, tomar um duche etc. Amanhã vou-me encontrar com o Marcos, um mocinho amigo aqui da net e que também mora aqui em S. Paulo. Amanhã á noite lá farei todos os possíveis por massacrar a vossa paciência. Vocês estão de facto com imensa sorte que eu tenha prometido não escrever mails muito longos. Para terminar, esperemos que não chova, porque nesse caso teria notícias para vos dar sobre alguns pontos turísticos aqui de S. Paulo. Mas não se animem, mesmo que chovam raios e coriscos vão levar outra vez com um testamento do tamanho da légua da Póvoa.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 3

Para simplificar vou dizer desde já que todas as pessoas que conheço aqui no Brasil, algumas delas irei encontrar durante esta viagem, outras infelizmente ficará para uma próxima, o meu conhecimento com elas advém do meu fraquinho por jogar xadrez. O meu nível xadrezístico oscila entre o muito mau e o péssimo mas isso não vem agora para o caso.
O que é certo é que em Setembro/Outubro de 2002 descobri na Internet um site óptimo que tem vários jogos entre eles xadrez. Lá pode-se jogar e ao mesmo tempo falar com gente de todas as idades, nacionalidades, níveis de jogo etc. Já agora passo o site www.flyordie.com
Um belo dia para aí em Outubro de 2002 comecei a jogar com um simpático menino chamado Guilherme que tinha na altura 8 anos. Jogámos e falámos várias vezes até que ele um dia me disse que o pai me queria conhecer. Ok disse eu, que me estava pelando por conhecer gente nova e do Brasil então nem se fala. O pai do menino era um tal Nivaldo que morava ( e mora! ) em S. Paulo e que os mais atentos dos meus leitores certamente já calcularam certamente que é o mesmo que me foi buscar ao aeroporto. Falámos, trocámos impressões, achámo-nos mutúamente simpáticos e fomos cimentando uma amizade, pouco a pouco fui apresentado ao resto da família, à esposa Janete e ao filho mais velho Gregório. Entretanto institicionalizaram-se quase tradições como seja passarmos a passagem do ano "juntos", eles em S. Paulo e eu em Hamburgo por exemplo, via net claro.
Eu e o Nivaldo entretanto jogámos varíadíssimas vezes xadrez, eu quase sempre levei bordoadas monstras, manda a verdade que se diga.
Descrevendo um pouco a simpática família onde estou a dormir durante 3 dias e 3 noites ( que diabo, eu tenho de dizer bem deles, eu estou a viver aqui em casa e eles vão ler isto ), o Nivaldo é um brasileiro de lei, como nós imaginamos que um brasileiro seja, bem disposto, alegre, afável, sempre pronto a fazer uma piada, enfim uma daquelas pessoas de quem só se pode gostar, o mesmo se pode dizer da Janete, não parece muito brasileira, lourinha e de olho verde, óptima dona de casa, cozinheira de mão cheia ( aquela lasagna!!! ) para além de ser adorada por marido e filhos, é quase idolatrada pelas futuras "noras" a Carol com 18 e a Sara com 14. Se o Nivaldo é o pólo financeiro deste lar a Janete é o polo de apoio logístico, é de certo modo a alma desta família, da qual ela tem as rédeas bem na mão. A descrição da família fica feita com o Gregório, um "pequenote" com um metro e quase noventa, de fala muito agradável, responsável, que trabalha e estuda ( com belíssimas notas aliás ) com uma notável maturidade para os seus 19 anos. O mesmo se pode dizer do culpado do "crime", do mais novinho, do Guilherme que com 12 anos, já anda pelo metro e setenta. É um óptimo aluno, sem patetices pubertárias, e já é difícil dizer dele que é uma crianca, tem poses e maneiras de estar muito adultas sem ser afectado ou arrogante.
Pronto, espero que já ter dito o bem suficiente para ter ganho o direito à estadia desta vez e para as próximas vezes.


Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 4

Eu sei que como qualquer dependente do alcool ou de produtos alucinogéneos vocês estao á espera da vossa dosezinha, por isso eu sou bondoso e não vos faço esperar mais.
Ontem de manhã e após o pequeno-almoço e de uma partida de xadrez com o Nivaldo ( perdiiiiiii, buááááááá´) fomos dar um passeio e criar apetite para o almoco no parque de Ibirapuera, nome de origem bem portuguesa como já notaram. Não, claro que não é, evidentemente. O nome é de origem india tupi-guarani e quer dizer mais ou menos: pau pôdre, árvore velha, apodrecida. É uma enorme zona verde, com museus, zonas de lazer, montes de pessoal a fazer jogging, a andar de bicicleta, ou simplesmente como nós a passear bebendo uma deliciosa água de côco bem fresquinha. Ainda antes de almoçar, fomo-nos encontrar com um outro amigo aqui de S. Paulo e uma outra mocinha amiga dele e minha, ou seja o Marcos e a Delminha. Para sorte do Marcos ele é também do Palmeiras, pelo que o Nivaldo se deu também muito bem com ele, se o Marcos fosse do Corinthians outro galo cantaria, estas coisas do futebol são tomadas muito a sério aqui no Brasil e pertencer ao clube "errado" é um crime grave. O ponto de encontro com o Marcos e a Delminha foi no Ponto Zero, um local situado mesmo ao lado da Sé Catedral aqui de S. Paulo. Esse tal Ponto Zero é o sítio a partir do qual são marcadas todas as distâncias no Brasil inteiro. Já que estávamos ali e como nenhum dos paulistas presentes (e eu muito menos claro! ) tinha até agora visitado a Sé, lá fomos fazer uma visita ao belo edíficio neo-gótico.
Fomos depois almoçar uma feijoada à brasileira ao Bolinha, um restaurante óptimo numa zona chiquérrima aqui de S. Paulo. Ora bem, como nós somos pessoas prudentes e sabemos que aqui no Brasil as pessoas exageram um pouco nas doses, pedimos só duas doses para três. Bom, eles trouxeram dois enormes tachos que davam para nas calmas matar a fome a um pequeno país do terceiro mundo, cheios de uma sensacional feijoada, com todas as carnes secas e não secas, linguiça, feijão, arroz à parte etc etc. Antes tinhamos comido já umas coisinhas no andar superior enquanto esperávamos por mesa, uns croquetezinhos, uns torrêsmos e umas caipirinhas, tudo uma delícia. Eu vou fazer como ontem e negar-me a dar pormenores acerca da quantidade que comi, deixo isso à vossa imaginação.
Depois daquela refeição de proporções gigantescas fomos a uma livraria muito boa que fica situada num centro comercial. É de facto uma livraria que tem de tudo ( desde que sejam livros claro) muito moderna e onde dá muito prazer passar umas horas, vendo esta capa, folheando este livro, lendo um pouco aqui ou acolá.
Queria aqui fazer um parêntesis. Eu tinha falado no MSN com alguns dos meus amigos e embora nos entendêssemos, devido à qualidade por vezes deficiente da transmissão eu notava que eles às vezes tinham dificuldade em me entender e estava um pouco apreensivo. Mas não, a comunicação é facílima e qualquer pessoa na rua me entende sem esforço e para mim é um enorme prazer falar com as pessoas e ler tudo quanto me cerca e entender tudo sem necessitar de traduzir ou caso nao fosse capaz por estar definitivamente numa lingua que eu não entendo, ficar sem perceber. É uma sensação maravilhosa estar rodeado de lingua portuguesa por todo o lado.
Depois disso viemos para casa. Antes disso passámos rápidamente por outro centro comercial para comprarmos umas coisas que o Nivaldo e a Janete precisavam, o Shopping Interlagos, sim, para aqueles entre os que me lêem e que são atentos à Fórmula 1, esse centro comercial fica muito próximo da pista, aliás como a casa do Nivaldo e da Janete, quando há corridas eles podem ouvir ao longe mas com alguma nitidez o barulho dos motores dos bólides.
Chegados a casa, entretanto tinham passado umas boas horas, faço aqui outro parêntesis para fazer notar que devido às proporções gigantescas da cidade, mesmo ao fim de semana o tráfico automóvel é bastante intenso, aqui em S. Paulo há ruas dentro da cidade com seis faixas em cada sentido, três e quatro faixas é "normal", e ir de A para B implica fazer dentro da cidade 10, 15 Kms. e mais, só para ir ali adiante. Prosseguindo, dizia eu que chegámos a casa e comemos um petisquinho ligeiro e bebemos uma garrafinha de branco bem fresquinha. A conversa fluíu ligeira e informal, ouvimos música, rimos, contámos histórias. O Nivaldo e a Janete são óptimos anfitriões ( eles estão aqui a lêr por cima do meu ombro e o facalhão que o Nivaldo tem na mão é enorme, pelo que eu sou sou obrigado a escrever estas coisas) e têm tido uma enorme paciência comigo, explicando-me tudo, mostrando-me ruas ( já me esquecia de dizer que fomos à Avenida Paulista, a rua mais famosa aqui de S. Paulo ), falando-me de lugares interessantes etc etc.
Cerca da uma da manhã e quando eu já ameaçava adormecer de cansaço mesmo ali no sofá, lá fomos dormir. Hoje de manhã, lá puz o despertador para as 6 da manhã, só para vos poder escrever e não vos deixar assim tristonhos e à míngua de notícias.
Eu prometi que desta vez não ia mandar mails tão compridos e até agora tenho cumprido não é verdade?

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 5

Olá pessoal,

ontem foi mais um dia em cheio. Após o pequeno almoço levei mais uma coça tremenda do Nivaldo no xadrez, ainda bem que não fico cá muito tempo senão o meu ego ficava pelas ruas da amargura. Claro que estou a brincar, tem sido um óptimo tempo este que eu tenho passado aqui, a Janete e o Nivaldo têm feito tudo o que é humanamente possível para fazer da minha curta estadia algo memorável e têm sido incansáveis andando todo o tempo comigo, mostrando-me, contando-me, explicando-me tudo tim-tim por tim-tim.
Dizia eu, que depois do pequeno-almoço e da sova no xadrez ( se calhar vocês estão a pensar que eu sou um nabo e que jogo xadrez muito mal, têm razão, eu confesso, é verdade ) lá fomos visitar o museu do Ipiranga, um museu deveras interessante, que abrange várias épocas e cujo prato de resistência é o período pré e pós-independência. Foi mais ou menos naquele sítio que foi soltado o famoso grito do Ipiranga ( Independência ou morte !!! ) e num terreno situado à frente do museu está o mausoléu do D. Pedro I do Brasil filho do nosso D. João VI, ( para mais informações consultem um compêndio de História, cultivem-se, alguma coisa têm de ser vocês a fazer ).
No fim da visita ao museu e como a barriga já andava a dar horas, fomos até ao Sujinho um restaurante muito conhecido, famoso seria melhor o termo, pela sua picanha, costeleta de boi, lombo de pôrco etc, enfim tudo coisas muito indicadas para vegetarianos e pessoas que estejam a dieta de canja de galinha.
Nesta altura e porque eu nos meus mails falo sempre de comida, vocês se calhar pensam que eu sou um comilão ou que passo muito tempo por dia a pensar em comida, sim é verdade, eu tambem confesso que isso é verdade.
Passemos adiante, o Nivaldo pediu um lombo de pôrco ( 10 numa escala de 0 a 10 ) e uma picanha que rebentou com a escala, o Nivaldo mandou vir no ponto como dizem aqui, ou seja bem grelhada por fora e levemente rosada por dentro. Meus irmãos, aquilo era uma carne saborosa, tenra, uma delícia mais os acompanhamentos, batata frita ás rodelas, arroz, farofa, mais umas loirinhas, e eu fiquei muito perto do paraíso.
Depois disso a Janete foi comigo andar de metropolitano umas 4 ou 5 estações e o Nivaldo foi recolher-nos à superfície. Claro que ao fim de semana os metropolitanos em todo o mundo andam quase vazios e o de S. Paulo nao é excepção, mas deu para ver que tanto as estações como as carruagens são limpas, modernas e amplas, o metropolitano é tão moderno e eficiente como o de qualquer capital europeia.
Depois disso ainda passámos por um centro comercial para comprar um bôlo porque a Janete e o Nivaldo queriam à viva força comemorar os meus 27 anos. Foi muito engraçado, a turma toda ou seja, o Nivaldo, a Janete, o Gregório, o Guilherme e as respectivas namoradinhas ou seja a Carol e a Sara, cantaram o parabéns a você, o Gregório gritou uns eferreeás, os meninos pularam e eu até tive de fazer discurso, foi mesmo muito engraçado.
Mais para a noite os três crescidos sentaram-se a filosofar sobre a vida, quais a possibilidades para a Janete e o Nivaldo num futuro próximo me irem visitar, custos etc. Cerca da 1 da manhã fui para vale de lençóis.
Agora são 6:53 da manhã ( sim, eu sou tarado, estou de pé de férias às 6:53 e isto sem necessidade nenhuma nem ser obrigado ) e depois disto vou tomar o meu duche, esperar que o casal se levante e se prepare, tomar pequeno-almoço e depois o Nivaldo e a Janete vão ter a gentileza de me levar ao aeroporto de vôos domésticos de Congonhas, onde tomarei o avião que me levará à segunda etapa desta minha viagem até agora memorável, ou seja Brasília.
Lá vai-me esperar ( espero eu!!! ) mais um casal que eu conheci no xadrez, o Moacir e a Vivi.
Janete e Nivaldo bem hajam, espero sinceramente um dia poder tentar ( sei que não vou conseguir ) responder à vossa amabilidade e hospitalidade, mostrando-vos um bocadinho da Europa.
Logo à noite meus queridos e interessados leitores, se me for possível já vos mando notícias da capital.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL -6

Meus amigos,

ontem foi o dia da partida de S. Paulo, depois do pequeno-almoço o Nivaldo deu-me o jogo de xadrez dele, que ele possuía há mais 30 anos, fiquei sem palavras. Em seguida levaram-me ao aeroporto. Despedidas de lagriminha escondida ao canto do olho.
O voo da Gol que durou hora e meia correu sem história, companhia muito jovem, aviões novos e em bom estado, pessoal quer de terra quer aéreo muitíssimo jovem, eficiente, delicado e profissional.
Fui recebido ( como sempre até agora !) pelo Moacir e pela Vivi de bracos abertos, eu acho que devia mesmo considerar a minha mudança aqui para o Brasil, nunca fui recebido em lado nenhum com tanta naturalidade e hospitalidade como neste país. Tenho de dizer aqui uma coisa, a minha saúde que de manhã comecou a não estar muito católica, para a tarde começou a piorar, o nariz a querer igualar as cataratas do Iguassu, a garganta a doer quando engolia e tal. O Moacir e a Vivi levaram-me a uma visita pela centro de Brasília onde reside o presidente Lula e onde estão os ministérios etc. A ver se amanhã ou depois escrevo algo mais detalhado sobre Brasília. Queríamos visitar o Itamarati ( espero ter escrito bem ), mas devido a uma recepção ou coisa que o valha, as parte mais importantes estavam fechadas, pelo que visitámos lá só uma exposição muito boa sobre o indio brasileiro. A nossa guia era uma mocinha muito jovem que tinha a particularidade de ser de ascendência india ( uma avó penso eu ). Apesar de eu estar cada vez pior ainda tentámos visitar o monumento ao presidente Juscelino Kubitschek, mas para nosso azar estava fechado. Eu entretanto estava completamente impróprio para consumo por isso viemos para casa, medimos a febre, 37,5 posteriormente subiu para 38,5, entretanto o Moacir foi à farmácia comprar umas gotas que me deram algum alívio e me fizeram , já para o fim da noite baixar a febre e diminuir a inflamação e o arranhar na garganta. Mesmo assim, ás 22:30 não resisti e fui para a cama. Nesta altura não era só a doença mas também algum cansaço, tenho andado a dormir pouco, sobretudo a acordar cedíssimo.
Bom, são agora 7:50, dormi bem , estou sem febre, ainda não medi, mas tenho a certeza que não e só sinto uma leve impressão na garganta. Do dia de hoje vos contarei novidades na próxima oportunidade.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 7

Meus amigos,

dada a possibilidade de alguns dos que leram o meu último mail pensarem que era altura de tirar o fatinho preto da traça para irem ao meu funeral, desiludam-se, os pingos que eu tomei ontem fizeram-me muitíssimo bem e já estou fino e capaz de outra.
Hoje após o pequeno-almoço fomos a Taguatinga e Ceilândia, duas cidades satélites aqui de Brasília, seguidamente porque a fominha apertava fomos almoçar a um restaurante de cozinha mineira e podem acreditar a comida estava para variar deliciosa, eu já nem sei o que dizer, nao tarda estão-se-me a acabar os adjectivos, mas de facto, eu que já tenho uns anitos em cima, já vivi em 3 países e já visitei mais uns quantos nunca conheci um paraíso gastronómico como este país.
Após o almoço comecou a parte cultural, fomos ao Palácio dos Congressos, onde ficam situados a Câmara dos Deputados e o Senado do Brasil. Havia sessões nas duas câmaras pelo que pude ver ao vivo um pouco dos debates parlamentares. Além disso fizémos uma visita guiada lá pelos edíficios e é muito impressionante, a cada passo se topa com, deputados, senadores e tal . Isto tudo com algumas medidas de seguranca mas nada de exagêros, depois de estarmos lá dentro podíamos frequentar os mesmos lugares e um cidadão pode encontrar num corredor um deputado e interrogá-lo sobre algum problema, viva a democracia. Após isso, fomos passear até à Praça dos 3 Poderes (Judicativo = Tribunais, Legislativo = Parlamento e Executivo = Presidente ) . É uma praça ampla e deveras impressionante pelo gigantismo. Em seguida viémos para casa acabar de fazer os preparativos para a peixada de hoje que vai reunir aqui umas 18 a 20 pessoas. Disso e de Brasília vos darei conta numa próxima oportunidade, da peixada já amanhã, das minhas impressões sobre Brasília talvez um pouco mais tarde, mas podem descansar que eu não vos deixo na ignorância, eu quero que saibam tudo. Nao quero que digam que eu morri e que não vos ensinei nada. Eu conto-vos tudo.
Entao fica assim por agora.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 8

Estou perante um problema a várias equações. Estejam tranquilos, eu não vos vou falar de matemática nesta hora e nesta altura do campeonato. O que se passa é o seguinte: até agora só o Jorge e a Alda se manifestaram fazendo perguntas ou mandando uma piada. Que será que acontece aos outros? Mal vêem o cabeçalho na caixa do mail, apagam sem mesmo abrir? Será que eu explico tudo tão bem explicadinho que não deixo margens para as vossas interrogações? Tal como eu disse no início, não se acanhem, eu estou à vossa disposição.
Mudando de assunto, a história de Brasília escreve-se em poucas palavras, ( óptima piada nao foi? Como se eu alguma vez fosse capaz de contar alguma coisa em poucas palavras!!!!).
No final dos anos 50 do século passado o então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, teve um sonho, uma visão o que lhe queiram chamar. Ele constatou que as cidades mais populosas do Brasil ficavam situadas no litoral ( S.Paulo, Salvador, Rio de Janeiro etc , o que é natural, os descobridores/colonizadores chegavam a terra e aí fundavam cidades ) e que talvez fosse uma boa ideia para tentar desenvolver o interior do País mudar a capital ( na altura Rio de Janeiro ) para uma cidade do interior, como nenhuma parecia apropriada o Presidente falou com o arquitecto Oscar Niemeyer e o urbanista Lúcio Costa e disse-lhes as palavras mágicas, o sonho de qualquer um que abraça essa profissão:
Meus senhores têm aqui um enorme terreno, façam-me aqui uma cidade.
Brasília surpreendeu-me, embora me tivesse informado através de pesquisas e leituras, estava à espera de encontrar uma cidade algo monótona e informe, um amontoado de prédios enormes quase todos iguais. Não foi esse o caso, a cidade é espaçosa, com muitos relvados, espaços verdes e a boa qualidade de vida que daí advém, pode ser que alguns dos que me lêem tenham outra opinião, eu também só estou aqui há 3 dias, conto as minhas impressões.
Mudando outra vez de assunto, ontem foi a tal peixada ( se calhar já adivinharam que é um prato de peixe !!! ). O Moacir e a Vivi, vão uma ou duas vezes por ano ao Pantanal ( o maior pântano do mundo ) e pescam durante alguns dias uns peixinhos do tamanho de mini-baleias, uns monstros de mais de 10 Kilos. Curiosamente eles não gostam de peixe. Mas o Moacir tem um enorme prazer em cozinhar ( ele é um cozinheiro de mão-cheia ! ) e em convidar os amigos para partilharem com ele os peixinhos, bom copo e boa conversa.
Éramos umas 15 pessoas que mal o Moacir deu ordem se atiraram à peixada como se o mundo fosse acabar amanhã. Estava óptima, divinal, um manjar dos deuses. Nem me perguntem os ingredientes com que o Moacir temperou o peixe, porque foram muitos e iria tornar este mail demasiado comprido ( estou mesmo com muita gracinha hoje ).
Cerca da 1 da manhã o último dos convidados abandonou o navio e eu pouco depois fui-me deitar.
Amanhã a meio da tarde lá parto para a terceira etapa, sobre o que fizemos hoje vos darei notícia numa próxima oportunidade.
Pronto acabou, não foi assim tão difícil ler tudo até ao fim pois não?

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 9

Peço desculpa em primeiro lugar por esta letra tão foleira, mas é o melhor que se pode arranjar aqui neste café Internet.
Não tenho muito para contar desta vez ( desta é mesmo verdade !!!!!! Será ? ) porque eu há duas noites atrás tive uma recaída e tive uma noite péssima sem dormir com a garganta a arranhar e tal. Ontem de manhã ensonado, engripado e chateado como um peru lá fui a uma farmácia implorar por uma dose de químicos qualquer que me pusessem bom rápidamente. E o que é facto é que já estou quase bom. Devido ao mau estar que sentia não saí de casa o dia todo pelo que os desgraçados do Moacir e da Vivi tiveram de aturar a minha má disposição. Ao jantar lá ganhei ânimo para irmos comer fora. Fomos a um shopping center ali ao pé e depois de jantar o Moacir e a Vivi queriam mostrar-me algumas das belezas nocturnas de Brasília mas eu encostei à doca e deitei-me na parte de trás do carro, estava mesmo a cair de soneira.
Fui-me deitar às 21:30. Não há nada que eu consiga achar mais divertido do que estar de férias com amigos e ir para cama às 21:30, GRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR.Enfim valha-nos ao menos a consolação que hoje de manhã estava práticamente como novo. Após o pequeno almoço fomos tentar visitar o Itamarati, mas estava escrito no livro do destino que não iria ser desta vez que eu visitava o tal edificio, paciência, fica para a próxima, seguidamente ainda visitámos uma Igreja da Boa Vontade, lugar interessante e bem espiritual e porque ainda era cedo para irmos para o aeroporto visitámos o "Catetinho", um edificio em madeira, muito simples, pouco mais de um barracão, que servia de residência ao Presidente Juscelino Kubitschek durante as suas visitas a Brasilia quando ela ainda estava em construção. Este edificio impressionou-me muito, não pelo fausto que normalmente caracteriza as residências oficiais de altas dignidades, mas exactamente pelo contrário, pela enorme simplicidade e despojamento, dêem uma olhadela no Google, instruam-se.Depois do almoço e de quase ter andado à pancada com o Moacir para ver quem pagava a conta, lá me despedi deles. Tal como a Janete e o Nivaldo em S. Paulo, eles tambem foram incansáveis em disponibilidade e hospitalidade.
O voo da Gol, magnifico, simples e eficiente. Chegado ao aeroporto, lá me informei que autocarro (omnibus) eu tinha de tomar até á minha pensão que fica muito bem situada, não à beira mar, mas quase, práticamente a dois passos. Depois de me instalar, tomar um duche e comer um jacaré ( Jacaré???? ) não, eu queria dizer um acarajé ( eu amanhã conto-vos o que é!!! ) vim para aqui sentar-me ao gelo do ar condicionado aqui do café, sujeito a piorar a minha saúde só para que vocês não fiquem à míngua de notícias. Amanhã há mais ( eu não avisei que este era curtinho ?)

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 10

Meus irmãos, há coisas na vida para as quais merece a pena viver. Uma delas é para poder fazer férias no Brasil uma vez na vida, outra seria por exemplo poder fazer férias uma segunda vez no Brasil.
São agora 8 e pouco da manhã ( quase 8 e tal e um pouco mais de 8 e picos ) e já me fartei de fazer coisas. Levantei-me cedinho, eram 6:30 e como as temperaturas aqui em Salvador estão finalmente do meu agrado, em S. Paulo e em Brasília estavam muito germânicas e pouco brasucas para o meu gosto, o sol já ia alto e o Henrique resolveu-se a calçar as sapatilhas e ir correr um bocadinho. Só que correr pela Av. Oceânica fora a ver o mar e a ilha de Itaparica ao longe tem muito mais qualidade de vida do que fazê-lo por entre os prédios da minha rota habitual lá em Hamburgo. A tal Avenida Oceânica que como é evidente fica mesmo á beira-mar tem um calcetamento a pedras brancas e pretas que poderia bem ser em Lisboa, o mesmo já eu tinha encontrado em Maputo ( em frente ao hotel Polana por exemplo ) e em Pangim ( Goa ), é deveras gratificante.
Depois da minha corridinha de 1 hora, para mais não chegam os pulmões nem as pernas, cheguei à pensão com a sopa a escorrer por todos os poros, fiz a barba e fui tomar um delicioso pequeno almoço, em vez de leite bebi sumo de caju ( ó portuguesada! Alguém era capaz de imaginar que é possível fazer sumo de caju ? ) e tambem dois copos de sumo de cajá, como não perguntei haja alguém que me ajude, o que é cajá?
Estou a gostar de Salvador.
Mais logo vos conto mais coisas e ajudo a melhorar o vosso nível de cultura geral com algumas informacoes breves sobre Salvador.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 11

Antes de ir visitar a cidade, fui a um centro comercial comprar umas bermudas porque a caloreira estava "di ámárgár". Agora vou devagar , devagarinho a pé até ao Pelourinho onde fica o centro histórico, é coisa pouca, são só cerca de 7 kms e como não estou para ir torrar dentro dos transportes públicos, vou tranquilamente a pé tentando o mais possível afastar-me dos antros de perdição. Não, não é a esses antros que eu me refiro. Eu refiro-me aos perigos que representam para a minha linha esbelta os montes de lugares onde se pode comer coisas deliciosíssimas. A propósito, quem tentou adivinhar de que côr são os meus novos bermudas e disse pretos, ganhou um balde de plástico, uma pá e mais uma dezena de outros maravilhosos prémios.
Então até mais loguinho.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 12

Tenho um montão de coisas para contar, por isso se estão sem paciência apaguem ou voltem outro dia com mais calma.
Comecemos pela cultura.
Foi aqui na Bahia que o Pedro Álvares Cabral ( por acaso nascido em Belmonte que fica no interior, como é que lhe deu na bôlha tornar-se navegador? Será que ele andava no fundo de desemprêgo e lhe arranjaram esse emprêgo e ele para não perder o subsídio aceitou?) avistou pela primeira vez terra.
Salvador cresceu rápidamente a ponto de em meados do século XVIII ( para os que me lêem e não sabem ler numeração romana é 18 ) ser o maior centro urbano não só do vice-reino do Brasil mas de toda a América do Sul.
Fundada em 1549 a cidade está também ligada a uma das sequelas mais tristes e sinistras do colonialismo. Salvador foi o maior e mais importante porto de chegada de escravos vindos de África o que explica que hoje cerca de 70% dos seus habitantes sejam afro-americanos.
Pronto, por agora não há mais cultura e para desanuviar o ambiente vou até contar uma gracinha. As seleções de Portugal e do Brasil jogam uma contra a outra. A certa altura vai ser marcado um livre contra Portugal. O marcador pelo Brasil é o Roberto Carlos. Os portuguêses formam barreira, mas de costas para o marcador. O treinador grita-lhes: voltem-se de frente, vocês estão loucos?
E um dos portugueses lá da barreira responde: Então e eu vou perder este golaço do Roberto Carlos?
Pronto, agora que já pararam de rir, vou continuar.
Entre o mail desta manhã e este de agora medeiam um acarajé, um rissol, uma cochinha de frango que em vez de ter frango tinha um queijo com um nome impronunciável para uma goela portuguesa e vários côcos gelados. Estava-me agora a apetecer começar a mandar vir com aqueles horrores, com aquelas monstruosidades alimentares a que lá em Portugal nós chamamos rissóis mas como estou de boa disposição vou-me conter.
Para ir da parte baixa da cidade para a parte alta há várias maneiras, mas a mais típica delas é ir até ao Mercado Modelo que é um gigantesco bazar de artesanato, onde se pode tranquilamente passear sem ser importunado por chatos a quererem impingir-te qualquer coisa . Além disso assisti durante alguns minutos a uma sessão de capoeira, eu já tinha visto capoeira antes, ao vivo e na TV, mas ao vivo na Bahia é outra loiça, não é possível recriar aquele ambiente, aquela sonoridade, numa sala em Hamburgo como eu vi há anos atrás.
Mesmo em frente do Mercado Modelo fica uma notável peça de engenharia chamada "Elevador Lacerda" para saberem mais consultem o Google que foi o que eu fiz, também não abusem.
Lá em cima na zona histórica do Pelourinho que ainda há poucos anos atrás estava completamente degradada e acolhia a maior miséria humana e moral ( leiam Suor de Jorge Amado por exemplo ) e agora, com apoios conjuntos do Governo brasileiro e de diveresas entidades internacionais está completamente renovado, pintado cheio de lojas de artistas etc. Está muito interessante, merece a visita, quero dizer, não merece, é um sítio de visita obrigatória. Lá no Pelourinho, fica entre outras, muitas outras, a Igreja de S. Francisco que foi construída entre 1708 e 1750 e que está cheia de barrôco a abarrotar, eu já vi muito barrôco, mas como aquilo confesso que nunca vi. Além disso fica também a casa-museu do meu querido Jorge Amado, claro que não podia deixar de visitar.
Na volta e felizmente para a minha pele delicada, vim de autocarro ( omnibus ).
Para além disso apanhei um susto enorme, quando olhei para o espelho do meu quarto vi um tipo de cara vermelhusca capaz de fazer concorrência a qualquer apache ou sioux. A minha carinha de alabastro tinha quase apanhado um escaldão. Amanhã não me posso esquecer de pôr o protector que trouxe.
Agora são 17:10 e vou pensar no que fazer com o resto do dia. Com um bocadinho de sorte ( ou de azar conforme as perspectivas ) ainda tornam a receber notícias minhas. É verdade, antes que me esqueça, se quiserem dar uma vista de olhos no site da simpática pousada onde eu estou, eu digo-vos:
http://www.ambarpousada.com.br/
Eles não me pagam para eu fazer publicidade deles, mas eu sou bonzinho e faço porque eles merecem.
Além disso e para quem estiver com paciência há tambem um excelente site em inglês ( feito por um norte-americano que aqui vive penso eu ) e que é o:
http://www.bahia-online.net/
Amanhã tenho mais um bocadinho de cultura para vocês ou até se calhar ainda hoje.
Até lá, por agora acabou-se

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 13

www.myspace.com/tapuan - Toquinho e Vinicius de Moraes - Tarde em Itapoan

Um cartaz aqui à porta da minha pensão reza o seguinte:

DANDARA CARTOMANTE

TARÔ

BÚZIOS

TRAZ O SEU AMOR EM 48 HORAS

TRABALHOS EM GERAL

Achei uma delícia e não resisti a compartilhar convosco. Hoje de manhã ao pequeno almoço, os sumos de fruta eram outros, havia maracujá, goiabada e seriguela ( socorro!!!! o que será seriguela? ), provei de todos, são sumos muito perigosos porque uma pessoa corre o risco de ganhar habituação e depois sente a falta, disso e de uma água de côco gelada bebida por uma palhinha directamente do próprio côco, acho que quando chegar a Hamburgo vou ter ataques de delirium tremens.
Mudando um pouco de assunto eu quero-vos contar parte da história de um tal Francisco Coutinho. Esse antepassado nosso foi um dos primeiros colonizadores a fundar uma comunidade na região. Segundo reza a História ele teve alguns problemas a nível das relações públicas com os indios Tupinambás e eles resolveram o problema com um banquete do qual o nosso ilustre antepassado fez parte não como convidado mas fazendo parte do cardápio. Há dois pormenores que a História não conta mas que me interessavam um tanto. 1) Como foi o nosso compatriota servido? Presumo que ele era muito pouco Francisco para tanto Tupinambá e que deve ter servido de tira-gosto ( de tapas ) acompanhado de um chopp de Brahma ( estou a imaginar cada Tupinambá munido de um palito a comer um bocadinho do Francisco Coutinho) 2) Como teria sido o Francisco confeccionado? No espêto? Na brasa? Cozido num caldeirão? Acho que ficarei para sempre na ignorância destes detalhes.
Hoje à tarde vou imitar o Vinicius de Moraes , para quem não sabe quem é eu conto um bocadinho. O Vinicius de Moraes foi poeta e diplomata e segundo as suas próprias palavras o branco mais negro de Brasil. É tambem a ele que devemos a famosíssima " Garota de Ipanema", mas sobre isso falaremos em local próprio quando eu estiver no Rio de Janeiro. Mas dizia eu que vou imitar o Vinicius e passar a tarde em Itapoã que fica aqui perto e de ao que parece ele gostou muito, se ele gostou eu tambem hei-de gostar.Mais para a noitinha vos contarei mais coisas. Victor não perdes pela demora, eu vou investigar isso do acarajé e depois conto-te. Então até mais logo se não for antes

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 14

De uma coisa devem vocês estar admirados. Então o gajo disse que estava a viver ao pé da praia e ainda não foi á dita?
Já fui sim senhor, fui hoje de manhã, a água estava quentinha, transparente, imaginem o Henrique sentado na areia com um côco geladinho na mão, ainda bem que a inveja não mata senão vocês já tinham morrido todos.
Só para alimentar a vossa inveja lá vai mais uma; hoje quando estava á espera do autocarro para Itapuã vi um homem com uma caixa de isopor na mão a deitar fora um prato cheio de cascas de ostras. Vai daí, eu que me pelo por semelhante pitéu e a última vez que me passaram pelo estreito foi na África do Sul há mais de 3 anos ( que saudades também daquela ida a Moçambique ) não resisti e perguntei: ó amigo, o senhor vende ostras? ele respondeu que sim, a dúzia = 10 reais ( pessoal da zona do Euro estamos aqui a falar de 3,5 Euros ) eu repeti abismado: dúzia? pelo que ele me disse que eram 12 o que me deixou muito mais tranquilo ao constatar que uma dúzia no Brasil também são doze. Apesar de já ter almoçado e estar à espera do autocarro ainda hesitei, as ostras eram fresquíssimas, com gelo, ainda fechadas, são abertas à vista do cliente e ele tem limão para deitar por cima e tudo, mas corajosamente resisti, mas já marquei encontro com o homem para amanhã, vou à procura dele pela praia fora, eu fique ceguinho e parta a espinha se me vou daqui embora sem comer umas ostras. Amanhã vos conto.
Dei uma volta lá por Itapuã, é uma praia bonita sim, mas como o trajecto até lá é pela orla costeira dura uma meia hora e as praias sucedem-se umas às outras que uma pessoa já nem liga. Depois já no regresso parei no parque de Pituaçu, tinham-me dito que lá se podiam alugar bicicletas e fazer um percurso durante um tempo.
E assim fiz, há mais de 8 anos que não andava de bicicleta e deu-me imenso prazer dar ao pedal por cerca de hora e meia. O percurso era lindo, cheio de vegetação e sempre à beira de um lago, espectacular!!!
Andei quase sempre sózinho, algumas vezes fui ultrapassado por alguns craques do pedal e outras ultrapassei eu, bom sejamos verdadeiros, as pessoas que eu ultrapassei foram uma familia de pai, mãe e uma filhinha aí de uns 8 anos e os outros foram duas míudas aí de uns 14, eu nunca disse que era o Lance Armstrong. Lá pelo meio do percurso já estava eu com os bofes de fora vi a minha salvação, um homem já idoso que vendia imaginem lá o quê? Isso mesmo, côco gelado, gente aquilo é uma delícia e custa um real. Agora vou por aí jantar qualquer coisa e amanhã conto-vos se me lembrar porque é que eu ainda não contei nenhuma aventura nocturna.
Até lá, divirtam-se muito nesta noite de sábado, pensem em mim e invejem-me.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 15

Hoje tenho um montão de coisas para vos contar. Já estou mesmo daqui a ouvir os gemidos e suspiros de alguns de vós que estão a pensar que vai sair um grande testamento. É verdade, eu confesso, vai sair um grande testamento.
Alguns de vocês com as mentes mais pervertidas, estão certamente a pensar ao notarem que eu não tenho dito nada, que me tenho fechado em copas sobre como tenho passado as 2 últimas noites porque me andei a entregar aos prazeres da carne, às lúxurias e depravações, deboches e bacanais. Aqui vos afirmo que não teria nada contra, mas infelizmente os únicos prazeres da carne foram os da carne vaca ontem ao jantar. Na sexta-feira fui-me deitar às 22:00 e ontem às 24:00, sem ter saído da pousada. A coisa conta-se em poucas palavras ( estou a brincar, eu ia-vos lá fazer a maldade de contar a coisa em poucas palavras, até parecia mal), adiante, o que é certo é que há coisas que eu gosto muito de fazer sozinho, por exemplo adoro viajar sozinho, por outro lado e esse é o lado mau de viajar sozinho é que chegado a um lugar ou tenho a sorte de arranjar alguém que me faça companhia ou um grupo o que ainda é melhor ou então tenho umas noites um bocado para o solitário, não me estou a lamentar, estou só a comentar os factos. Como disse na sexta deitei-me eram 22:00 e acreditem que não há nada que dê mais prazer do que estar em Salvador, sabendo que em cada esquina há alguém a batucar ou há um bar para ouvir música etc e ir para a cama às 22:00. Ontem depois de jantar e antes de vir para a pousada ainda parei numa taberna, e garanto-vos que não era mais que uma taberna, que fica situada a uns 20 metros da pousada e de onde eu já antes do jantar tinha ouvido uma batucada. Quando lá cheguei, sentei-me, ninguém me obrigou a consumir nada, era um ambiente de pessoas muito simples, havia familias com crianças e via-se que não pertenciam ao sector mais rico da sociedade brasileira. Pois por ali estive durante duas horas e aquele pessoal sempre na batucada, com uma alegria ímpar. A certa altura pediram-me para entrar na batucada, eu expliquei-lhes que era português ( isso desculpa muita coisa!!! ) e que tinha tanto ritmo como uma vaca a pastar num prado verdejante, eles olharam-me com comiseração mas não insistiram, felizmente. Cerca das 22:00 despedi-me efusivamente daquele maralhal todo, vim para a pousada e entretive-me a conversar com o Alex que é o moço que fica aqui na pousada durante a noite.
Pouco depois chegou a Raquel que é de Brasília e ficámos à cavaqueira até à meia-noite, como vêem os vossos receios ou as vossas esperanças de que eu andasse por maus caminhos eram infundados.
Hoje de manhã levantei-me e fui tomar mais uma banhoca, a propósito ( será mesmo que vem a propósito, hmmmm quero lá saber !!! ) hoje os sucos ( sumos ) do pequeno almoço eram abacaxi ( ananás), cajá e açerola ( se alguma alma gentil me contar o que é açerola agradecia, sei no entanto uma coisa, é uma delícia). Eu quero aqui notar que aqueles sucos não nascem de nenhum pacote de papelão, mas são feitos de fresco todas as manhãs, isto é que é qualidade de vida.
Cerca das 11:00 voltei à praia para tentar encontrar o tal homem das ostras, mas ou ele veio mais tarde ou fez greve, o que é certo é que lá fiquei feito camelo a percorrer a praia para a frente e para trás, mas do homem nem sombra. Para compensar a frustração subi a minha dose de droga para 4 injecções, perdão 4 cocos geladinhos, quando chegar a Hamburgo tenho de ir ao médico para ele me dar um produto químico qualquer que sirva de substituição, quem sabe até se não terei de fazer uma cura de desintoxicação.
De tarde andei por aí a passear.
Havia uma coisa que eu queria aqui notar. As temperaturas estão bastante altas pelo que as pessoas vestem evidentemente de uma maneira desportiva e ligeira, os homens de ténis ou flip-flops ( havaianas ) calções ou bermudas ou calças de tecidos leves e cores claras ( há um ou outro idiota, não!! só há um idota que usa bermudas pretas, mas isso é outro assunto ) e t-shirt ( camisete ), quanto às meninas usam saias, ( às vezes tão compridas que quase podiam dar um cinto para as minhas calças) calças de cores claras e blusas. Uma coisa é característica de ambos os sexos. A limpeza imaculada das roupas e o bom estado das mesmas. Já andei várias vezes de transporte público e ainda não notei nenhuma vez o agradável cheiro do perfume SOVAC, o que denota que as pessoas têem chuveiro em casa e a utilização de desodorizantes não lhes é desconhecida.
Queria agora aqui avisar que o tema que eu agora vou tratar pode ofender alguns defensores da moral e bons costumes ou alguns espíritos mais púdicos, por isso se acham que estão entre as pessoas visadas podem terminar aqui a leitura do mail.
Pronto, agora sei que aguçei a vossa curiosidade e que tenho a vossa atenção a 100%, cambada de debochados, eu também podia ter dito isto no princípio do mail mas vocês vinham logo à ganância à procura das ordinarices.
Ora bem, eu queria agora falar aqui de peitos, não de frango ou de peru, mas desses mesmo, dos peitos femininos, das maminhas. As mulheres brasileiras em geral não se podem queixar que a natureza lhes foi avara quando se tratou de conceder redondezas ( nada contra, antes pelo contrário ) além disso a mulher brasileira gosta de mostrar as tais redondezas ( nada contra, antes pelo contrário), eu diria mesmo que algumas destas meninas e senhoras não têm peito mas um parapeito (se por acaso estão a sentir a baba a escorrer pelo computador abaixo não estranhem, é natural ).
No entanto, uma coisa eu notei assim que pus os pés na praia, aqui no Brasil, ( tal como nos Estados Unidos ) parece haver imenso pudor em fazer monokini ( só usar a parte de baixo ) que é uma prática corrente na Europa em todos os países há séculos e para a qual já ninguém liga, cada um anda como quer e pronto, mas há mais e isso então impressiona-me muito, é que mesmo as criancinhas, atenção eu estou a falar aqui de crianças de 3 ou 4 anos que têm nessas idades tanto para esconder como os meninos da mesma idade ou seja nada de nada, não falha uma sem a parte de cima do bikini, coisa que convenhamos só serve para atrapalhar. Estou perplexo, por um lado tanta abertura e tanto prazer evidente em mostrar o corpo, roupas curtas e justas etc e por outro uns pudores despropositados. Haja alguém que me explique esta contradição . Não estejam para aí a pensar que eu sou um velho tarado que queria ver as meninas todas de maminhas de fora, não se trata disso.
Bom, por hoje já vos dei bastante para ler e pensar, amanhã pelo meio-dia parto para o Rio e o final da minha viagem. Amanhã à noite vos contarei as minhas primeiras impressões do Rio. De lá tenho algumas coisas que vos quero contar,( como se eu até agora nunca tivesse dito nada ), algumas até vão surpreender os próprios brasileiros ou alguns deles, pelo menos assim o espero.

Até amanhã

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 16

A garota de Ipanema - http://www.youtube.com/watch?v=h__ldWPnpXc

Olha, que coisa mais linda, mais cheia de graça
É ela menina que vem e que passa
Num doce balanço a caminho do mar.......

É assim que começa a "Garota de Ipanema". A lista de brasileiros que a cantaram é quase interminável, eu vou citar aqui uma lista dos mais conhecidos: António Carlos Jobim ( que compôs a música ), Vinicius de Moraes ( que escreveu a letra ), Toquinho, Simone, Djavan, Gal Costa, Caetano Veloso, Elis Regina, Nara Leão e Baden Powell ( só à guitarra ( violão ) claro ). Quanto aos de lingua inglesa ou que sendo brasileiros a cantaram em inglês temos alguns nomes igualmente sonantes como por exemplo, Frank Sinatra, Ella Fitzgerald, Sammy Davis Junior & Count Basie, Nat King Cole e a versão que é mais conhecida fora do Brasil penso eu, que é a da Astrud Gilberto acompanhada do saxofonista Stan Getz.
Eu fiquei muito intrigado por tu não conheceres a Astrud Gilberto ó Nivaldo, já que tu és fã de Música Popular Brasileira e conheces os nomes deles todos logo depois de ouvires as 3 primeiras notas e resolvi investigar um pouco isso. Lá na Bahia, fui a um shopping center e lá procurei pela loja que vendia discos. Ao perguntar pelo nome de Astrud Gilberto a empregada, moça dos seus 20 anos ou isso olhou para mim com uma cara como se eu a estivesse a assaltar, nem sabia se era homem ou mulher ( será que Astrud é um nome masculino muito comum? ), mas ela não desanimou e foi perguntar ao chefe que era ao que parece um especialista e me confirmou que sim, que fora do Brasil era a versão mais conhecida e não só, que a dita senhora foi casada com o João Gilberto e é mãe de uma moça cantora da actualidade chamada Bebel Gilberto.
Eu vou-vos revelar agora algo que a mim me parece espantoso.
A emissora de jazz norte-americana http://www.kkjz.org/, situada em Los Angeles fez um inquérito entre os seus ouvintes sobre qual a música de jazz mais popular e entre os milhares de títulos produzidos por norte-americanos essa versão da Astrud Gilberto acompanhada pelo Stan Getz ficou num espantoso 6º ( sexto ) lugar, não acham incrível?
Serve esta pequena introdução para dizer também que é nesse tal bairro de Ipanema que eu vou viver por 3 dias. Cheguei há pouco, dei por aí uma volta, é um bairro residencial com pôdres de chic.
Infelizmente e ficará se calhar como a única coisa amarga da minha vinda ao Brasil, o tempo está uma desgraça, céu encoberto, mais para chover que outra coisa, praias de Copacabana e Ipanema e Leblon completamente vazias, uma desolação.
Já agora queria ainda dizer que Ipanema significa Água Má em dialecto indio tamoio e já que estamos numa de confidências queria dizer qualquer coisa sobre o carioca. Que o carioca é o nome que de brincadeira todo o mundo dá aos habitantes do Rio de Janeiro e eles próprios dizem que são, isso até o gato sabe, mas quem é que sabe que o nome também é de origem tamoio e quer dizer simplesmente Casa do Homem Branco? Foi assim que os indios chamaram ás primeiras construções dos portugueses.
Falando em portugueses, hmmmm....... como dou eu a volta a isto, sei lá!!!!
O que eu queria dizer é que para além das roupas e dos cheiros de que falei ontem, uma coisa que eu noto também é que os brasileiros, não têm felizmente nenhum problema com as palavras obrigado, por favôr e desculpe, coisa que noutro país de fala portuguesa cujo nome neste momento não me ocorre mas que começa por P, cada vez vai rareando mais quem seja capaz de usar essas 4 palavrinhas. Eu às vezes tenho a sensação de que alguns cidadãos desse tal país preferem que lhes arranquem um dente a sangue-frio sem anestesia, a dizerem obrigado, desculpe ou por favôr. Mais um ponto para os brasucas.
Antes de terminar queria dizer que hoje de manhã dei a minha injeçãozinha intravenosa de água de côco e que o voo da Gol correu tranquilamente, nas calmas como uma pessoa que eu conheço costuma dizer.
Amanhã lá terei mais novidades do Rio de Janeiro para vos contar, rezem aos vossos santinhos para que venha sol.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 17

Tenho tanta coisa para contar, nem sei por onde começar, é tanta coisa que nem vou começar pelo princípio.
Primeiro vou explicar aos não-brasileiros a razão pela qual o nome de uma das cidades mais famosas do mundo é um absurdo.
Os portugueses que como toda a gente sabe são os donos da sabedoria chegaram à baía da Guanabara e confundiram-na com a foz de um rio, e depois num arrojo de imaginação por que estavam nessa altura no mês de ( se calhar vocês já adivinharam!!!) Janeiro, resolveram então chamar ao lugar que tinham descoberto Rio de Janeiro.
Prosseguindo, a lição de cultura geral acabou por hoje ( talvez!! )
Ontem à noite, eu e os meus sócios de quarto, resolvemos ir a um rodízio de sushi aqui perto, eu nunca tinha comido sushi na minha vida e andava deserto para experimentar, não é mau, bastante exótico mas come-se bem. Vocês por exemplo não sabem mas os brasileiros fazem rodízio de quase tudo, de churrasco, de pizza, de sushi e até desconfio que nos restaurantes macrobióticos brasileiros há o sistema de rodízio, primeiro vem uma dose enorme de arroz integral, depois uma dose enorme de hamburgers de soja, depois uma dose enorme de sementes de guerguelim e por aí fora.
O que é certo é que vieram uma após outra, quatro travessas enormes cheias de sushi de todas as maneiras e feitios, ao fim da terceira sem termos sido capazes de acabar com tudo, claudicámos e resolvemos dizer aos empregados para não trazerem a quarta travessa, mesmo sem termos acabado as outras três. Cabe aqui dizer que os meus companheiros de quarto são um americano, um alemão e um brasileiro. Depois de jantar voltámos ao albergue, o brasileiro foi-se deitar e eu e o alemão e o americano ficámos no paleio até cerca da meia-noite.
Antes de jantar tinha falado com a Silvinha e acertado todos os pormenores para nos encontrarmos hoje.
Para hoje de manhã eu e o americano tínhamos combinado uma corridinha matinal para criar apetite para o pequeno-almoço, e assim foi, às 6:45 da manhã lá estava este herói a correr por Ipanema fora, a seguir, lá fizémos aquele bocadinho do Arpoador que liga Ipanema a Copacabana e depois ainda fizémos Copacabana toda, é um esticão dos diabos. Uma ida são mais ou menos 8 kms, o pior de tudo é que para lá fomos no meu ritmo, para cá o americano que tem 29 anos, veio há um ano do Iraque e ainda está com o sangue fresco na guelra, acelerou o ritmo e eu vi-me em palpos de aranha ( bonita expressão nao é? Quer dizer que me vi atrapalhado!!! ) para o acompanhar, nos últimos dois kms as minhas pernas pareciam feitas de puré de batata, e estava com uma fome de anteontem, mas lá me aguentei. Além disso digamos que ter corrido em Copacabana é uma história para eu contar aos netinhos que nunca vou ter.
Infelizmente o tempo estava encoberto e pouco depois começou a chover a cântaros e continuou assim até cerca das 18:00. Resultado, eu e a Silvinha encontrámo-nos tal como tínhamos combinado à uma da tarde na Faculdade de Letras onde ela é estudante, ela trouxe uma amiga dela a Débora que eu já conhecia de foto e que é muito simpática também. Ser jovem é algo maravilhoso e elas são mesmo duas jovens adoráveis. Apesar do mau tempo, lá fizémos algumas coisas, visitámos uma exposição sobre as Américas, comemos, ajudámos uns alemães de certa idade ( maneira muito simpática de dizer que eles eram velhos) a achar o Museu Histórico Nacional, fugimos da chuva permanente, visitámos a Igreja da Candelaria, rimos, tirámos fotos, eu diverti-me bastante e espero que elas se tenham divertido um pouco com o velho coroa portuga.
Faço aqui um parêntesis para contar, que os transportes públicos do Rio de Janeiro (metro e autocarro ) são modernos e frequentes e a maior parte deles movidos a energias alternativas pouco ou nada poluentes. Isto é a parte positiva, a parte negativa é que o trânsito é muito intenso e os autocarros se deslocam com a velocidade de uma tartaruga com reumático, além disso, em todo Rio de Janeiro, uma cidade com 8 ou 9 milhões de habitantes há duas linhas de metro com um total de 32 estações que necessáriamente cobrem uma parcela mínuscula do território da cidade e não o tornam muito atractivo e eficiente como tranporte alternativo.
De volta ao hotel, encontrei os meus colegas de quarto que me disseram que eles iam dentro de pouco tempo juntamente com mais uma alemã e um casal de holandeses jantar fora. Não me fiz rogado como podem imaginar, danadinho por companhia ando eu.
E eis que quando já desesperava por ir para Hamburgo sem ter experimentado uma churrasqueira de rodízio me achei de repente com aquela tropa fandanga toda dentro de uma, com a vantagem de estar a jogar em casa por ser o único que falava a lingua local.
Foi de facto com o toda a gente dizia, para além das saladas e acepipes iniciais os cortadores começaram a trazer sem descanso doses enormes de carne no espêto tendo o pessoal de fazer um esfôrço enorme para os conter da fúria de encher os nossos pratos de montões de carne do tamanho do Everest. O pessoal todo adorou a experiência. Acabado o jantar eu o americano e o alemão ainda passámos ao andar de cima onde funciona um bar irlandês. Eu bebi duas bebidas típicamente irlandesas chamadas caipirinha e depois resolvi voltar como menino de juízo para o albergue para escrever este mail enquanto os outros ainda ficaram por lá e queriam ir a uma festa de samba ou nao sei quê, devo dizer que ao grupo inicial de três se tinham juntado dois italianos e um irlandês e uma irlandesa, mas eu se continuasse por lá começaria a entrar nas caipirinhas violentamente e pensei além disso que tenho responsabilidades quase jornalísticas para com os meus leitores que esperam, ávida e sôfregamente novidades minhas e não quiz faltar com o meu dever.
Amanhã, se me lembrar e se me apetecer falo-vos um pouco das favelas do Rio de Janeiro. Agora são 22:30 e está na hora de eu ir molhar a minha garganta seca numa cervejinha ou quem sabe noutra caipirinha. Se amanhã de manhã vou correr ou não logo vos digo.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 18

Eu tinha ameaçado que ia falar de favelas e coisas assim, mas afinal de contas não vou, por vários motivos. Primeiro porque já fui polémico que chegue, já levei cada bordoada na cabeça que nem imaginam, em segundo lugar porque hoje tive um dia tão espectacular que não me apetece falar de favelas, tenham paciência.
Hoje de manhã e porque o ianque disse que não lhe apetecia, eu e o alemão meu companheiro de quarto lá nos decidimos a correr mais um bocadinho. O homem está mesmo doente, tem 31 anos e estava eu ainda fresco como uma alface,( estávamos a meio de Copacabana) disse-me que queria regressar, tudo bem, fiz-lhe a vontade. Depois disse-lhe que nos últimos 2 kms já em Ipanema podia acelerar o ritmo se lhe apetecesse, disse-me que não, o homem estava mais que rôto.
Resultado tive de andar a um passo ainda mais lento que o meu.
Depois do pequeno-almoço ( que os meus irmãos brasileiros me desculpem, eu respeito café da manhã mas não me consigo habituar), eu e o alemão e o americano decidimo-nos a ir visitar o Pão de Açucar, e lá fomos, o tempo não estava famoso mas não choveu, claro que com sol tudo teria sido melhor, mas enfim...
Quando chegámos ao Pão de Açucar um tipo interpelou-nos, ele queria que nós pagássmos 35 reais para irmos com ele visitar o Corcovado, além disso ele parava onde nós quiséssemos para tirar fotos etc.
Fiquei meio desconfiado com tanta fartura mas adiante. Lá visitámos o Pão de Açucar, vistas maravilhosas e tal e tal, é mesmo muito bom visitar o Rio de Janeiro, estou encantado com a cidade. Saímos do Pão de Açucar e o nosso homem lá estava firme no seu pôsto à nossa espera.
E de facto tudo se passou como ele disse, por 35 reais levou-nos ao Corcovado, parou para tirarmos fotos onde queríamos etc. Claro que não preciso de dizer que do Corcovado se tem vistas espantosas, só vendo, contado não dá para explicar.
O nosso guia deixou-nos no simpático bairro de Sta. Teresa, um bairro megasimpático com casas pequenas, mercearias à antiga com balanças onde as pessoas ainda pesam à mão etc.
Descemos num elétricozinho até ao centro da cidade e depois regressámos ao albergue.
No albergue havia umas ofertas mais baratas, do género um pedia uma caiprinha e recebia duas etc, e os pratos todos tinham 20% de desconto, pelo que nos resolvemos a ficar por lá.
Hoje é provávelmente o último dia em que vos escrevo do Brasil, amanhã parto para a Alemanha com muita mágoa. Eu disse a algumas pessoas que já sabia antecipadamente que ia gostar do Brasil, o meu problema é se iria gostar muito, muito, muito ou só muito, muito. Meus amigos brasileiros eu gostei, muito, muito, muito, muito do vosso país.
Talvez amanhã se ainda tiver tempo e paciência escreva mais qualquer coisa, senão escrevo o último mail das minhas crónicas por terras brasucas já da Alemanha.

Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 19

Meus amigos, encontro-me já no aeroporto Charles de Gaulle em Paris. Amanhã depois de acordar escrevo o último capítulo. Não percam.


Henrique

A SEGUNDA DESCOBERTA DO BRASIL - 20 ( CONCLUSAO )

Meus caros leitores ( as )

PAREM. PAREM COM TUDO O QUE ESTÃO A FAZER, NEM SEQUER LEIAM ESTE MAIL ATÉ AO FIM, NÃO VÃO ACHAR GRAÇA NENHUMA, NEM TEM GRANDE INTERESSE.
Desculpem as maiúsculas e o tom imperativo mas é o que se aplica nestas ocasiões. Levantem já, mas já mesmo os vossos rabiosques fôfos e dirigam-se à agência de viagens mais próxima para comprarem um bilhete de avião para o Brasil. Para onde? É igual, não tem a mínima importância, é tudo muito bom.
O quê? Vocês ainda aí estão sentados a ler este mail chato em vez de seguirem o meu conselho bem intencionado? Pronto, então eu vou continuar, mas depois não digam que eu não vos avisei.
Claro que vocês são uns infelizes porque não têm a sorte de conhecer a Janete e o Nivaldo, a minha benção para vocês e continuando ao jeito de Vinicius de Moraes, a minha benção também para a Vivi e para o Moacir, não me queria aqui esquecer da Delminha, do Marcos, da Silvinha, da Débora e até mesmo para ti Bruno que o acaso não permitiu que nos conhecêssemos pessoalmente, a minha benção para todos vocês, saravá! E para terminar a minha benção para o condutor do autocarro, para empregada da pousada, para a senhora na rua que ajudou a encontrar o que eu procurava, enfim, para todo o povo anónimo do Brasil que ajudou com a sua hospitalidade, charme, simpatia etc a transformar esta viagem em algo inesquecível saravá! Mas apesar disso, apesar de não conhecerem essas pessoas podem vir tranquilamente ao Brasil, tenho a certeza que serão recebidos de braços abertos e que farão aqui novos amigos.
Na viagem de regresso a TAM deu-me um presentinho óptimo e inesperado. Quero eu dizer que fui promovido da classe proletária onde normalmente viajo ( e julgo que vocês também) para a classe burguesa dos lugares lá da frente. Eu só vos digo meninos, um luxo. Em vez de irmos todos apertadinhos como sardinhas numa lata de conserva, cada um tinha um cadeirão enorme muito confortável e que era completamente reclinável a 180 graus, mais um apoio para os pés, dava uma cama quase perfeita. Antes de jantar deram-me um cardápio com 3 opções, para além de poder escolher entre diversos brancos e tintos de boa proveniência. Antes da refeição ofereceram champanhe ( eu disse champanhe e não aquele espumante que eu de vez em quando compro no supermercado !!!) .
E depois a refeição em si, servida em loiça e com talheres de metal com guardanapos de pano, em vez daquelas tigelinhas em plástico ou em folha de alumínio como eu estou habituado, copos de vidro, enfim ser rico não é condição necessária e suficiente para se ser feliz ( veja-se por exemplo o meu caso que sou um pobretanas e a pessoa mais feliz do mundo ) mas ajuda um bocadinho, francamente não me importava nada de trocar por uns tempos, (digamos assim pelos próximos 40 anos, só para experimentar ) esta minha condição de pobretanas profissional pela de ricaço amador.
Depois de jantar reclinei-me quase na horizontal e dormi uma soneca de umas 3 horas. Quando acordei, estive primeiro a pensar na sorte que eu tenho e no que fiz para merecer isso e depois fui ouvir o novo CD da Maria Rita ( a filha da Elis Regina, o Nivaldo tinha-me chamado a atenção para ela e já que o CD fazia parte das opções musicais a bordo não quiz perder a oportunidade. Muio boa a menina de facto ( estou-me a referir às suas qualidades como cantora ), depois ouvi um pouco de musica clássica e finalmente vi um dos vários filmes que eles ofereciam.
Durante esta minha viagem algumas pessoas estranharão que sendo eu um chato e que critica tudo e todos não ter falado daquilo que muita gente fala quando fala do Brasil, ( para além de futebol, samba e mulatas etc ) ou seja não falei de pobrezinhos, de favelas e de criminalidade. É verdade, não falei e foi intencionalmente. Não é que eu queira fechar os olhos a isso, mas é um tema tão vasto, tem tanto sobre que se lhe diga que eu não quis abusar da vossa paciência mais do que o necessário ( e de certeza que algumas vezes o fiz !).
Na minha cabeca circulam palavras estranhas e misteriosas, Ibirapuera, Ipiranga, Acarajé, Vatapá, Pituaçu e muitas, muitas outras.
Foi uma viagem longa que me fez percorrer 7 aeroportos diferentes ( alguns deles como Guarulhos, Paris ou Hamburgo repetidos ) 8 descolagens e aterragens.
Quanto ao meu peso e para minha felicidade, apesar dos vários e maravilhosos exageros gastronómicos ( aquela lasagna, aquela feijoada, aquela picanha, aquela peixada, aquele rodízio no Rio etc) não aumentou muito, saí de Hamburgo com 65,3 Kgs e ontem à noite a primeira coisa que fiz foi pesar-me e a balançaa só acusou 67,1 Kgs o que ainda faz de mim um pêssego capaz de ser requestado por estas alemãs todas, mas eu não lhes ligo.
Para terminar, tentei ser e algumas vezes acho que consegui a avaliar por algumas reações que recebi : polémico, interessante, enervante, divertido, massacrante, informativo, irritante etc.
Para o ano se houver dinheiro há mais viagens e mais coisas deste género, até lá despeço-me de todos os que tiveram a enorme paciência para lerem todos os meus dislates com um grande abraço


Henrique

VIAGEM À INDIA - De 14 de Março a 5 de Abril de 2004

Durante estas cerca de três semanas, fui mandando regularmente mails a amigos relatando as minhas experiências. Espero que vos dê a lê-los pelo menos um décimo do prazer que me deu a mim a escrevê-los, já seria muitíssimo bom.

Telegramas indianos - 1 ( os nrs. 2 e 3 faltam devido a um problemazito que me é alheio )

Rua no Pahar Ganj, um bazar em Dehli
Vaca pastando lixo no Pahar Ganj

Segunda- feira, 15 de março de 2004

Meus amigos (portugueses, brasileiros, alemães )

Cheguei aqui há umas horas já dormi e dei uma passeata pela cidade.
Mas o Henrique não seria o Henrique se não começasse a protestar.
Há muitos anos, quando eu vivia na felizmente defunta RDA tive o duvidoso prazer de voar umas 5 ou 6 vezes com a companhia de aviação romena, Tarom de seu nome que tinha aliás como as outras companhias do leste europeu uma péssima fama amplamente justificada. Dentro dos aviões nao chovia mas gotejava e das paredes escorria uma aguadilha que deixava uma marca amarela e ferruginosa.
Quanto à comida, bom, todos sabemos que a comida a bordo dos aviões não é uma aventura gastronómica, mas aquilo ultrapassava todos os limites, uma comidinha mal confeccionada e umas porções que não davam para encher um buraco de um dente se eu tivesse um ( buraco, não dente evidentemente ), mas o cúmulo dos cúmulos eram as hospedeiras de bordo (aeromoças), senhoras que deviam ter sido jovens entre os finais do século XIX ( 19 ) e princípios do século XX ( 20 ) deviam agora ter idades que oscilavam entre os 80 e os 120 anos. Para tentar disfarçar isto as senhoras usavam uma camada de maquilhagem e pinturas que eu calculo assim por alto em mais ou menos 3 quilos o que lhes dava o ar de um cruzamento bem conseguido entre um indio apache ou comanche em pé de guerra com os caras pálidas e uma personagem da galeria de horrores do museu das figuras de cêra da Madame Toussaud em Londres.
A esta hora deve estar toda a gente a pensar que eu apanhei muito sol indiano na moleirinha e não digo coisa com coisa e que além disso não sei escrever porque não ponho acentos nas palavras, não, não é isso, o que se passa é que este teclado não tem acentos graves nem agudos. Além disso esta historia toda vem a propósito do(s) meu(s) vôo(s) de ontem com a Aeroflot. Estava eu Leonor posta em sossego, pensando na minha ingenuidade que 14 anos depois do fim do "socialismo" e apesar da má fama que a Aeroflot continua a gozar, que fosse só má vontade, mas não, no primeiro vôo de Hamburgo até Moscovo a hospedeira era ligeiramente mais jovem que as outras da TAROM e os dois comissários de bordo ( aeromoços ) tinham um ar de agentes do KGB reciclados e imensas dificuldades em accionar os músculos faciais capazes de produzir um riso ou sequer um sorriso, quanto á comida, o que a Aeroflot chama um almoço foi uma salada constituída por um quarto de tomate, uma folha de alface e um outro vegetal qualquer de natureza indefinível ( se calhar era russo ). No segundo voo de Moscovo até Delhi as hospedeiras eram considerávelmente mais jovens, mas quer eles quer elas tinham manifestas dificuldades com a lingua inglêsa, mas as 10 palavras que conheciam desse idioma diziam-nas fluentemente. O opíparo menu constou de um pedacinho de peixe supostamente frito mas que estava ressequidíssimo e 4 batatas do tamanho da unha de um dedo polegar ( juro que estou a falar a sério), toda a refeição ocupava metade daquelas travessinhas já de si minúsculas. Como se as desgraças não fossem já suficientes a instalação sonora tinha dado o triste pio pelo que foi óptimo ver "O pirata das Caraíbas" com o Johnny Depp sem som. Nesta altura do campeonato vocês devem estar a perguntar: mas porque diabo é que ele não mandou o filme ás urtigas e leu qualquer coisa? Então ele foi para férias sem sequer levar um livro ou um guia turístico? As vossas perguntas sao justificadíssimas, o que se passa é que durante a projecção do filme o avião estava ás escuras, pelo que das 6 horas que durou o vôo 4 foram feitas ás escuras. Pronto, já aprendi qualquer coisa, juntamente com as companhias de aviação árabes com quem me recuso a viajar por motivos que não vêm agora para o caso tambem puz a Aeroflot na minha lista negra pessoal.
Mas quando será que ele fala na India, hão-de estar a perguntar os poucos que conseguiram resistir e ainda me estão a ler. Bom, eu tinha feito uma pesquisa aturada na net e não era primeira vez que cá vinha, de maneira que até agora estou a manobrar as situações insólitas e que confesso me chocaram um bom bocado há 1 ano e meio, com muita soberania.
Logo depois do pequeno almôco fui á estação e comprei o bilhete de comboio ( trem) para Varanasi no dia 18, isso deu-me alguma satisfação porque me tinham dito que os comboios estavam cheios e que era preciso reservar com semanas de antecedência etc. Depois telefonei á Sujata uma moça indiana que eu conheci em Goa há ano e meio, queria ir jantar com ela, mas ela não pode, vamo-nos encontrar cerca das 16:30 por uma hora ou duas e pronto. Para que os mais maliciosos não fiquem a pensar coisas, não se trata de mais nada do que um encontro, eu mal conheço a moca, conhecemo-nos com já disse há ano e meio, ela estava com mais uma amiga e dois amigos, todos eram muito ocidentalizados na maneira de ser e de vestir, falavam óptimo inglês e fizemos um jantar a 5, a história é esta.
O calor dá-me um bocado que fazer, quem como eu nos ultimos dois meses não suportou mais de 5 graus positivos e se vê agora confrontado com temperaturas de bem mais de 30, sofre um bocadinho, mas enfim não é problema de maior. Acho que por agora não vou dar cabo da paciência dos dois ou três que penosamente ainda estão a ler esta treta toda e vou despedir-me.

Um abraço para todos do

Henrique

Telegramas indianos - 4

Vacas no Pahar Ganj
Jantar Mantar, um observatório astronómico do séc. XVII

Terça-feira, 16 de março de 2004 13:51

Meus amigos ( portugas, brasucas, e para além disso germânicos e moçambicanos de quem me tinha esquecido da outra vez, facto de que peço aqui as minhas humildes desculpas )

Para comecar uma tirada pró machistóide. As meninas deste mundo, mesmo as indianas são todas iguais, a Sujata que tinha combinado encontrar-se comigo entre as 16:30 e as 17:00 acabou por aparecer com aquelas desculpas do costume de que só as mulheres são capazes ás 17:20, o Henrique como sempre pontualíssimo a secar. Depois fomos a um observatório ao ar livre que tinha sido mandado construir por um marajá qualquer no século XVII ( 17 ) que se interessava muito por astronomia, obra de facto notável, fiz umas fotos do tal observatório que dá pelo nome bizarro de Jantar Mantar. Cerca das oito da noite e depois de termos petiscado qualquer coisa muito rápidamente a Sujata foi para casa, ou antes foi tratar de uma coisa qualquer, não percebi bem e como não me interessava particularmente não perguntei.
Depois da visita estivemos um bocado a conversar na relva e a falar um bocado da situação dela e da situação da mulher indiana em geral. A irmã que é 5 anos mais nova que ela casou em Fevereiro ( num casamento arranjado pelos pais como ainda continua a ser uso aqui na India) o comportamento dela que antes já era "escandaloso" ( deve ter para aí uns 25 anos e ainda está solteira), ainda se tornou agora mais evidente. Claro que na cerimónia do casamento não houve cão nem gato que muito discretamente em voz alta e para todos ouvirem não tivesse perguntado: então e tu quando é que casas?
Ela diz que só consegue aguentar essa pressão cultural e familiar porque vive numa grande cidade onde tudo é um pouco mais liberal.
A rua do meu hotel fica no meio de um bazar, e esqueçam tudo o que ouviram dizer até agora sobre bazares, isto é um bazar indiano, ruas estreitinhas, com lojas de tudo quanto é possível e impossível, indianos, montes de indianos, carros, motas, triciclos puxados por um tipo de bicicleta a dar violentamente ao pedal, tuc-tucs ou seja triciclos a motor, pelo meio os carros apitam, as motas apitam, os triciclos apitam, os condutores das bicicletas gritam, os vendedores gritam as suas mercadorias a pleno pulmões e as vacas que de vez em quando aparecem e contribuem imenso para melhorar a situação do tráfego nestas ruas estreitas olham com olhar bovino.
O Henrique no meio disto tudo vai-se livrando dos tipos mais incríveis que lhe querem vender de tudo, desde jogos de xadrez pequeninos ( hoje foram alguns 50 a tentar impingir-me essa mercadoria ) , flautas, tantans, viagens de carro aqui e acoli, coisas para fumar ( acho que eles não estavam a pensar em tabaco ) ou uma ida à loja do vizinho que vende muito barato e é mesmo ali ao lado por coincidência. Aqui é que o Henrique está bem, indiscutívelmente nasci para isto, trabalho para mim é um mal necessário, um espaço que eu de alguma maneira tenho de preencher entre viagens, isto é a minha fonte de juventude, acho até que estou com alguns cabelos brancos a menos.
O caos está servido, entrem e sirvam-se por favor, chega para todos.

Abraços

Henrique

Telegramas indianos - 5

Algumas fotos do templo de Bahai



Quarta-feira, 17 de março de 2004 07:30

Olá minha gente,

hoje de manhã tive um bocado mais de juízo e lembrei-me de olhar para o bilhete de identidade antes de começar a fazer disparates como o de ontem, o que ele me devolveu não me agradou muito mas enfim. Fui de triciclo motorizado ( estes veículos que existem por toda a Ásia são chamados de tuc-tucs em virtude do ruído que fazem por terem um motor de combustão a dois tempos ) até ao templo do Lotus, um templo que não é bem um templo, é uma construção moderna acabada de contruir em 1986 no meio de um jardim muito aprazível e bem cuidado. Tem a forma de uma flor de lotus com 35 pétalas em betão cobertas de mármore branco, faz um belo efeito confessemos. A ideia da construção do templo foi ser um ponto de encontro de todas as religiões, não se celebra lá missa ou qualquer ofício religioso, chegados lá dentro deparamos com uma cúpula altíssima e montes de lugares onde as pessoas se sentam a pensar, a meditar, tudo muito em silêncio, é um sítio muito aprazível. Cá fora a contrução está cercada de nove tanques de água muito limpa e que contribuem para o sistema de refrigeração interior.
A ida e volta ( cerca de 30 kms ) custou-me 270 rupias ou 5,5 euros ou 60 reais ou 150.000 meticais.
Perguntaram-me se eu faço estas visitas todas sózinho e o que que foi feito da companheira do primeiro dia. Sim, até agora tenho andado sempre sózinho o tempo todo e não tenho falado com ninguém a não ser para dizer 50 vezes por dia, não obrigado, não, não quero, já tenho, não, não vou etc.
Quanto à Sujata telefonei-lhe hoje de manhã a tentar convencê-la a trazer a mãe para irmos jantar a qualquer lado, apesar de ter calculo eu uns 25 anos a mãe não a deixa sair sózinha à noite ( ???) . Isto não é história, são sociedades e mentalidades um pouco diferentes das nossas. É uma situação um bocado difícil, porque a mãe não sabe falar inglês e sente-se portanto um pouco inferiorizada em relação à filha. Enfim vou telefonar-lhe daqui a pouco e logo saberei se dá para nos encontrarmos ou não. De tudo darei notícia.
Claro que eu só conto os episódios mais pitorescos, mas viajar pela India é duro, muito duro. A pobreza atinge proporções dificílmente imagináveis e o que é mais dificil de suportar é que não é uma pobreza escondida dentro de quatro paredes e que nós não vemos, só podemos adivinhar. Não, a pobreza na India é demonstrada, é ostentada a cada passo, torna-se necessário desligar alguns sentidos para algumas vezes conseguir suportar a India. Eu falo agora sobretudo para os moçambicanos, não se pode comparar Maputo com Delhi, o asseio das ruas de Maputo, uma certa ostentação de bem estar, um trânsito certinho e ordenado, claro que deve haver zonas muito pobres de Maputo onde eu não fui, mas aqui a pobreza está em toda a parte não está escondida, eu disse pobreza? Desculpem, eu queria dizer miséria, a mais lamentável das misérias e não importa se estamos no centro da cidade ou nos suburbúrbios, em paralelo com maravilhosas impressões estão tambem impressões trágicas, miséria, doenças, defeitos físicos de toda a espécie expostos ali aos nossos olhos como se fosse uma gigantesca montra.
Vou-me despedir por agora, logo à noite se puder há mais.

Abracos para todos os que têm a paciência para me ler e mesmo para aqueles que não têm, do

Henrique

Telegramas indianos - 6

Quarta-feira, 17 de março de 2004

Meus amigos,

acabei agora de jantar um poema. Fui a um sítio novo ( todos os dias mudo de sítio) e estava com uma fome como diz o Chico Buarque, de anteontem. Devido ao calor como pouco durante o dia e à noite tenho não um rato mas uma ratazana enorme que quer ser alimentada. Esse tal sítio fica no telhado de um hotel, é muito normal eles fazerem restaurantes nos telhados, este era tão luxuoso que até tinha cerveja.
Encomendei um carneiro com arroz branco que estava uma delícia, muito bem servido com uns nacos de carne enormes e muito saboroso, picante sem ser exageradamente, mesmo no ponto. Para acompanhar a coisa dei a volta a duas cervejas grandonas ( 650 ml cada uma ). Além disso tive a sorte de estar ao meu lado um canadiano, aí por roda dos seus 55 calculo eu, que é um autêntico globe trotter ( trota mundos ) como eu gostaria de ser, não havia práticamente país nenhum onde ele não tivesse estado, no Brasil 5 vezes, Angola, Moçambique, Timor, Macau etc, a Tailândia ( Banguecoque) servia-lhe de ponto de partida para todo o mundo e contando o tempo todo que já esteve na India, seriam vários anos. Era um tipo bacano e deu imenso prazer falar com ele. Aliás uma coisa que eu sinto um bocado é a falta de comunicação, por isso este jantar foi bem importante para mim. Ou porque é que julgam que eu escrevo tanto? Pelos vossos lindos olhinhos? Também, mas sobretudo pela elementar necessidade que o ser humano tem em menor ou maior quantidade de comunicar com os seus semelhantes. Talvez amanhã no combóio encontre mais um estrangeiro com quem seja possível trocar impressões. De tudo vos darei notícia, nada ficará por contar.
A propósito a Sujata ( a tal minha conhecida indiana ) hoje não pode encontrar-se comigo, de maneira que combinámos encontrar-nos daqui a 5 ou 10 anos.
Sinto que é chegada a altura de mudar de sítio, já vi e já fiz o que queria ver e fazer, é chegada a altura de partir para novos mundos.
Despeço-me, atento venerador e obrigado pedindo antecipadamente desculpa por qualquer coisinha .

Um abração do

Henrique

Telegramas indianos - 7

Quarta-feira, 18 de março de 2004 08:15

Notícias de última hora ainda quentinhas. Alteração (quase ) radical nos planos.
Estava eu a passear muito nas calmas, olhando para a esquerda e direita com grande ripanço quando fui interpelado pela milionésima vez penso eu, desta vez era um mocito que ao ver a minha t-shirt com uns dizeres em alemao, me disse conhecer algumas palavras dessa lingua e que daqui a uns tempos iria em viagem de negócios a Zurique, lá cavaqueámos um bocado sobre as dificuldades da lingua germânica, amaldiçoámos em côro os dativos e ablativos, enfim o costume. Passado um pouco, o que eu já estava à espera aconteceu, lá me convidou para ir á loja do tio (????) que por acaso era ali ao lado, palavra puxa palavra o homem que era um bom negociante, lá me desenhou um projecto que tinha duas enormes desvantagens, primeiro iria rebentar completamente com o meu orçamento e depois iria fazer com que eu andasse a correr de um lado para o outro, ora eu gosto de fazer as coisas segundo o meu ritmo, e além disso eu estou de férias não estou a fugir à polícia. Vai dai disse-lhe quais eram os meus planos, uma coisa mais simples, mais compacta com menos sítios para visitar mas com a contrapartida de estar mais algum tempo em cada sítio. O projecto que ele queria era assim do género: venha conhecer o Brasil de norte a sul e de leste a oeste com passagem pela Amazónia numa semana.
Ele compreendeu que não me conseguia comover e acedeu ás minhas pretensões, afinal de contas ele também tinha interesse em fazer negócio e fez-me uma proposta que sendo evidentemente mais cara do que aquilo que eu tinha inicialmente pensado ainda está dentro do meu orçamento, aliás isso de ser mais caro é a única desvantagem, de resto são só vantagens.
Nesta altura os mais impacientes hão-de estar a perguntar: mas afinal o que é que ele vai fazer?
A minha ideia era ir para todo o lado de comboio(trem) e havia dois sítios que eu tinha de ligar de autocarro ( ómnibus ) por falta de combóio.
Agora os planos são estes, como eu já tinha comprado o bilhete para Varanasi a coisa ficou na mesma, e como de Varanasi até Agra ( a minha paragem seguinte ) é muito longe, voltarei de comboio como estava planeado, a partir de Agra é que as coisas mudam. O Henrique passa a andar motorizado de carrinho, com chofer, gente rica e finaça é outra coisa.
No preço esta tudo incluído, carro, chofer e hotéis nos diversos sítios.
As vantagens são enormes como é evidente, para além de carro ser sempre mais rápido, posso parar onde quiser para fotografar qualquer coisa interessante, o que de combóio é um bocado dificil, nao tenho de em todos os sítios ir á estação, reservar bilhete para a estação seguinte sujeito a que eles me digam que o combóio já está cheio, o que parece acontecer de vez em quando, não tenho de andar à procura de hotel em cada cidade onde chegar, de algumas tinha feito pesquisa na Internet e tinha algumas coisas pensadas, mas assim é um descanso, o condutor sabe onde é o hotel, leva-me, lá tenho o problema resolvido e mesmo durante o dia o homem está à minha disposicao para me levar aqui e acoli, acho que ele comigo vai ter uma vida regalada e a maior parte do tempo depois de ele me deixar no hotel mando-o ir dar uma volta e ir-me buscar daqui a dois dias, mas enfim, uma ou outra vez vou certamente fazer uso dos serviços do homem.
Esta ideia de estar mais móvel e de não ter que andar em tranportes colectivos agrada-me e como a única contrapartida é ser um pouco mais caro, mas mesmo assim estar dentro do meu orçamento, para a frente é que é Lisboa.
E por agora é tudo, muito obrigado pela atenção dispensada e por ainda não terem adormecido.

Um abraço

Henrique

Telegramas indianos - 8

No combóio entre Delhi e Varanasi

Sexta-feira, 19 de março de 2004

De Delhi para Varanasi

No comboio descendente vinha tudo à gargalhada
uns por verem rir os outros, e os outros sem ser por nada...

Sempre que viajo de combóio, ( trem ) o que felizmente acontece poucas vezes conhecida que é a minha aversão aos transportes públicos, lembro-me desta poesia do Fernando Pessoa.
Hoje ainda me lembrei mais. Quem viaja na penúltima classe ( como eu ) de um combóio indiano ( os combóios indianos têm oito classes ) não tem muito para rir.
O meu compartimento em princípio é de seis pessoas, até agora já contei 11, os lugares que durante o dia servem para as pessoas se sentarem, funcionam à noite de cama, as costas desses assentos transformam-se em mais duas camas à noite e ainda há mais um andar superior (o meu ).
Os meus companheiros de viagem até agora são um casal arqueológico e uma familia constítuida por um avô com uma barba à marinheiro toda completa mas sem bigode, uma mãe muito jovem de uma menina de 7 anos e de um menino de 4, além disso um irmão e uma irmã dela e um irmãozito pequeno do marido que não viaja.
Nenhum deles a não ser a mãe, fala patavina de inglês, mas ela sabe e tem um temperamento vivo. Com a filhota divirto-me bastante, faço-lhe caretas, cócegas etc e isso dá-me alguns pontos positivos.
Como é costume nestes países as pessoas não viajam simplesmente, levam montes de bagagens, sacos de plástico etc, o espaço disponível que inicialmente era pouco fica reduzido ao mínimo. A mãe é uma pessoa alegre, muito viva com um sorriso simpático e uma voz aguda capaz de fazer quebrar vidros duplos, enfim não se pode ter tudo. As três mulheres trazem vestido um traje indiano típico, não o sari, mas o salwar kalmez, que é constutuido por umas calças e uma túnica, muito mais prático para viajar imagino eu, já que tapa tudo quanto há a tapar e permitindo grande mobilidade.
A mãe tem um desses trajes em azul claro, a irmã em verde claro e a velhota em laranja/alperce. Tudo por junto dá um aspecto exótico, colorido e folclórico.
Quando o comboio chegou à gare e apesar de faltarem cerca de 40 minutos para a partida, milhares de indianos tomaram o comboio de assalto como se o mundo fosse acabar amanhã, falando cacarejando inimpterruptamente, presumo que em Hindi.
Ao fim de uma certa agitação e nervosismo e com o partir do comboio a coisa acalmou um bocado e tomou dimensões mais ou menos "normais". Oláááááááá, estamos na India, o que é que é normal neste país?
A partir das 6 da manhã com o nascer do dia toda a população combóistica pôs-se em movimento, ou para dar satisfação a necessidades fisiológicas ou para lavar os dentes etc. De 3 em 3 minutos passa um vendedor com voz monocórdica, são vários mas a voz é sempre a mesma: tchai-tchai, tchai-tchai, a versão indiana do chá que eles transportam em grandes termos-marmitas e que consiste em água com leite e açucar a ferver e no qual o cliente mergulha o saquinho de cha própriamente dito.
Vamos passando por aldeolas com casas(???) construídas em barro, as mulheres trabalham a m..... das vacas talvez misturando com água e formam uma espécie de pizza que depois de seca é empilhada em pirâmides que chegam a medir 3 metros de altura. Para que semelhante coisa possa servir é um mistério que ficará momentâneamente por resolver já que não há aqui ninguém com vocabulário suficiente para me explicar.
Os meus companheiros de viagem, óbviamente muito pobres compartilham a comida que trazem em sacos e sacolas, mesmo comigo.
Uma coisa que me diverte imenso é observar os homens das aldeias por onde vamos passando, como há falta de casas de banho, acocoram-se mêsmo quando o comboio vai a passar e impassíveis e serenos baixam as calças e libertam-se do conteúdo excessivo que trazem no intestino. Os indianos tem aliás uma relacao muito, muito liberal com a libertação dos seus resíduos sólidos e líquidos, não há aquela ideia de privacidade que nós temos, é onde calha e onde dá mais jeito.
Quando eu saí em Varanasi, houve grandes despedidas e apertos de mão colectivos.
E a história acaba aqui de momento

Até mais logo ou até amanhã, um abraço do

Henrique

Telegramas indianos - 9

Mercado em Varanasi
Búfalo passeando nas ruas de Varanasi

O banho dos búfalos no Ganges


Sexta-feira, 19 de março de 2004

Falando um pouco sobre Varanasi.

No tempo da colonização inglesa, até à independência em 1948 a cidade chamava-se Benares, de há uns anos para cá retomou o nome original, Varanasi.
Com os seus 2 milhões de habitantes é uma vilória quase se compararmos com os 13, 14 ou 15 milhões de Delhi( quem sabe ao certo? ). No entanto não se pense que é uma cidade pacata, o trânsito é tão intenso e caótico como o de lá, enfim, por esse lado não seria motivo para fazer 700 e tal kms e andar 13 horas de combóio ( trem ). Acontece que o que faz Varanasi tão interessante para nós turistas é o facto de ser ao que parece a cidade-viva mais antiga do mundo ( mais de 2.000 anos ) e os Ghats.
Mas que sao os ghats? Os ghats que são cerca de 100, são escadarias em direcção ao rio Ganges onde as pessoas fazem os seus banhos rituais e além disso e porque Varanasi é a mais santa das sete cidades santas do hinduísmo, a existência de 2 ghats só para a cremação de corpos humanos. Para os hindus é muitíssimo importante para a sua vida futura serem cremados em Varanasi, se forem cremados aqui têm a absoluta certeza que não irão nascer na próxima encarnação como macacos, cães ou George Bush, o que convenhamos não é nada mau. Acontece que essas cremações sao públicas, fui à tarde lá e visitei os dois e agora à noite fui dar um passeio até ao que fica aqui mais perto do hotel e estavam a cremar 6 pessoas, a mais perto de mim aí a uns 10 metros.
Dispenso-me de dar mais explicações aqui em geral, pelo conteúdo eventualmente chocante que alguns detalhes pudessem ter. Quem quiser saber mais pormenores, pergunte-me por mail que eu se souber responder, terei o maior prazer nisso.
Nos outros ghats estão permanentemente centenas de Hindus divididos claro pelos ghats todos tomando os seus banhos, lavando roupa etc.
Para os Hindus o rio Ganges é a nossa mãe ( nossa deles, está claro, o pai ao que parece é incógnito ) e por isso uma boa lavadela lava também os pecados todos, é assim uma espécie de confissão, reza-se 3 padres nossos e 5 Ave Marias e temos os problemas resolvidos ate à próxima, aqui para eles uma boa banhoca com sabonete e tudo, também os limpa dos pecados todos até tornarem a fazer algumas asneirolas grandes.
Até aí não viria grande mal ao mundo, o que se passa é que todos os canos de esgôto vão dar ao Ganges, imaginem numa cidade de 2 milhões de habitantes em que estado é que está o rio, claro que já foram feitos estudos por cientistas ocidentais sobre o grau de contaminação da água e os resultados são assustadores, várias centenas ou milhares de vezes superiores ao que é permitido ou aconselhável para a saúde pública.
Mas vá-se lá dizer isso aos Hindus, nem pensar, isso seria verdade noutro rio qualquer e a poluição está lá, eles não desmentem, mas não faz mal a ninguém porque o Ganges é muito mais poderoso e sagrado do que a poluição.
Amanhã tentarei ir dar uma volta de barco pelo rio, uma prática muito corrente aqui e ver os ghats do rio. De tal ou do que mais acontecer vos darei notícia como sempre com a riqueza de pormenores que me é costumada, sim que eu quero que compartilhem comigo tudo o que de bom e mau me está a acontecer.

Um abraço do

Henrique